O São Paulo vem sendo criticado neste início de temporada por apresentar atuações abaixo do esperado. Mas se existe algo que está evoluindo em 2018, se comparado ao ano passado, é o setor defensivo da equipe. Pelo menos é o que os números mostram: Desde 2008, a equipe não tinha um desempenho na defesa tão satisfatório.
Tanto em 2018, quanto há dez anos atrás, o tricolor sofreu quatro gols em seus primeiros sete jogos. Se contarmos apenas as partidas da equipe titular, o aproveitamento melhora: apenas dois gols sofridos em seis confrontos (ambos na derrota para o Corinthians).
Nos últimos três jogos, o São Paulo acumula três vitórias sem ceder nenhum tento ao adversário. Dorival Júnior comemorou o feito em sua coletiva após o triunfo contra o Bragantino. Mas o que esses números realmente demonstram sobre o atual setor defensivo do São Paulo?
Temporada difícil
Ao longo de 2017, o tricolor do Morumbi entrou em campo por jogos oficiais em 62 oportunidades. Foram 80 gols sofridos, o que representa uma média de 1,29 gols por jogo. Somente nos sete primeiros jogos do ano passado, a defesa foi vazada 13 vezes.
Maicon, Rodrigo Caio, Douglas, Lyanco, Breno, Lucão e Lugano. Das opções para a zaga que o São Paulo tinha no início da temporada, apenas Rodrigo e Lugano terminaram o ano jogando no tricolor. E o uruguaio logo anunciaria aposentadoria. Houve uma reformulação completa. Chegaram no meio do caminho, Arboleda, Bruno Alves e Aderlan. O equatoriano Arboleda se firmou na zaga ao lado de Rodrigo Caio e a dupla terminou o ano com uma impressão positiva.
Nas laterais, o drama foi ainda maior. Sofrendo com a posição ao longo dos últimos anos, o São Paulo viu passar pelo lado direito, Buffarini, com atuações desastrosas, Bruno e Éder Militão. O último, zagueiro de origem, deu estabilidade ao setor defensivo e foi a solução encontrada por Dorival Júnior para a posição. Já pelo lado esquerdo, Júnior Tavares iniciou o ano, mas constantes falhas e temperamento difícil fizeram o lateral perder a posição para Edimar, que chegou ainda em março, por empréstimo. Assim como Militão, Edimar melhorou a marcação, mas mostrou uma grande limitação ofensiva.
Na meta tricolor, mais discussões. Rogério Ceni trouxe Sidão para disputar posição com Dênis. Sem nenhum dos dois agradar, Renan Ribeiro tomou a posição por alguns meses. Com a chegada de Dorival, Sidão recuperou a titularidade e terminou o ano em alta, com boas atuações.
Ano novo, vida nova
Em 2018, o São Paulo promoveu mais mudanças em sua defesa. Contratou o goleiro Jean para disputar posição com Sidão (Dênis e Renan Ribeiro deixaram o time). Na zaga, Anderson Martins chegou do Vasco e na lateral esquerda Reinaldo retornou de empréstimo para compor o elenco tricolor.
A amostra ainda é pequena, mas os números demonstram um time mais comprometido com o setor defensivo da equipe. As opções para a dupla de zaga são boas, Anderson Martins se mostrou bom zagueiro, ainda sofrendo um pouco com a falta de ritmo. Bruno Alves também vive boa fase, seguro e confiante. Rodrigo Caio deixou as falhas da última temporada no passado e está mais sólido emocionalmente. O camisa 3 tricolor, inclusive falou sobre a responsabilidade de ser o jogador a mais tempo no elenco.
Nas laterais, o problema ainda existe. Pela direita, Militão se desdobra, faz o possível para exercer uma função que não é a sua de origem. No outro extremo, Edimar, bastante criticado, disputa a vaga com Reinaldo. É nítido que nenhum dos dois é um craque de bola.
No gol, Sidão vêm se destacando, fazendo grandes defesas e ajudando o time. Em alguns momentos ainda demonstra certa insegurança, mas por enquanto a sorte o acompanha e o goleiro ainda não comprometeu. Mesmo assim, muitos pedem a entrada do jovem Jean.
Números a parte…
O melhor início defensivo de uma temporada em dez anos. Essa informação surpreende e transmite a sensação de um time extremamente forte defensivamente. Não é totalmente verdade.
É inegável que a equipe apresenta uma evolução, se comparada ao ano passado. Tal melhoria vem ocorrendo desde o final de 2017. Tanto por uma melhoria nas peças e por uma mudança na mentalidade defensiva. Jucilei é parte importante dessa engrenagem, dominando o meio de campo, contribuindo com desarmes. Da mesma forma, Petros, que deu ao time um maior poder de marcação. No entanto, a equipe também vem contando com uma imensa dose de sorte.
A limitação dos adversários não é necessariamente a explicação dessa melhoria. Afinal, como já dito, ano passado o tricolor sofreu 13 gols nos primeiros sete jogos. Quatro do Audax, dois do Novorizontino, dois do Mirassol, dois da Ponte Preta, dois do São Bento e um do Santos.
O que preocupa é a forma como o São Paulo está jogando as partidas. Principalmente nas segundas etapas, o tricolor vem caindo de produção e dá inúmeras oportunidades ao adversário. A marcação afrouxa e os espaços aparecem. O meio campo é lento na recomposição e as laterais ficam sobrecarregadas. Se não fossem as intervenções de Sidão, poderíamos estar em uma situação mais crítica ainda. As atuações não transmitem confiança nem boas perspectivas ao torcedor.
Uma defesa sólida
Em 2008, ano que o São Paulo igualou nos números com este início de 2018, a equipe vinha de uma temporada impecável na defesa. Ao todo, 52 gols sofridos em 73 jogos. Apenas 19 durante as 38 rodadas de Campeonato Brasileiro. A defesa formada por André Dias, Miranda e Breno ficou marcada como uma das melhores da história. Ainda tinha Alex Silva na reserva e o Mito, Rogério Ceni, defendendo a meta.
Contudo, as defesas montadas por Muricy Ramalho durante 2006 e 2008 não eram ótimas apenas no miolo da zaga e no gol. Todo o sistema funcionava em perfeita harmonia. Os atacantes marcavam pressão na frente, os alas voltavam para recompor a primeira linha. Cabia ao trio de zaga “apenas” o último bote. Por isso, dificilmente os beques são-paulinos ficavam expostos, mano a mano com o adversário, sendo obrigados a partir para a correria.
Esse é o segredo de um bom sistema defensivo. Em 2018 vemos um time que, por enquanto, toma poucos gols, mas se expõe demais. Volta e meia os zagueiros são obrigados a matar jogadas, os laterais enfrentam ultrapassagens do adversário. Cruzamentos, infiltrações, chutes de fora. Muitas jogadas chegando às mãos de Sidão.
Dorival Júnior parece não ter encontrado ainda o equilíbrio adequado. Opções para o miolo de zaga ele possui. Nas laterais, o treinador vem optando por jogadores mais defensivos, justamente para não expor o time. No entanto, o buraco entre a linha defensiva e o meio de campo é enorme. E justamente por aí, surge o perigo vindo do adversário. Nenê, Cueva, Diego Souza, nenhum desses jogadores apresentam características de recomposição. O time fica descompacto.
Por isso, há de se ficar atento quanto ao significado dessa marca. Comparado ao início da temporada passada, a evolução existe. Mas falhas ainda estão acontecendo, exemplos são os gols sofridos no clássico Majestoso. Nem Dorival, nem os jogadores devem pensar que o apresentado até agora já é bom o bastante. A equipe ainda não alcançou um desempenho defensivo excelente e seguro. Por enquanto, Sidão vem salvando e contando com sorte também. Até quando isso vai acontecer?
Em 2007, a equipe não teve um começo tão bom quanto o desde ano, no que se refere à gols sofridos. O que aconteceu depois, a gente sabe. A torcida sonha que este ano o enredo seja semelhante ao daquela temporada.
Álvaro Logullo