O São Paulo volta a mais uma Libertadores da América e com isso a memória dos torcedores se enchem com bons casos que vivemos em um jogo do tricolor na competição continental. A maioria se lembra do título de 2005, outros mais antigos se lembram das campanhas de 92 e 93. Tem vovó e vovô que se recorda com carinho do vice-campeonato em 1974.
Como sou das antigas, mas nem tanto, me recordo nitidamente de um jogo de Libertadores, de um ano em que acabamos nos tornando vice-campeões também, exatamente 20 anos depois do primeiro vice-campeonato. Em 1994 vivíamos algo que na época não teríamos como saber, o último ano da máquina tricolor de Telê Santana. E teve um jogo que me marcou muito – foram as oitavas de final contra o Palmeiras da Parmalat.
O Palmeiras já tinha vencido dois paulistas e um brasileiro e era o time que todos diziam ser imbatível. Para eles vencer o atual bicampeão da América e do mundo era o passo essencial para estabelecer uma nova era de glórias. Os Palmeirenses estavam em êxtase e já se consideravam classificados. No jogo no Parque Antártica massacraram a gente, Edmundo e Evair fizeram de tudo –menos fazer gol no Zetti. O goleiro fez uma das melhores atuações de sua carreira e segurou o empate em zero a zero. Viemos para o Morumbi, era uma tarde de comemoração aos campeões mundiais de 94 que atuavam nos dois clubes.
Minha mãe e meu irmão são palmeirenses e resolveram fazer uma festa lá em casa para assistir ao jogo. Diziam que eu era a ovelha negra da família e que tinha que ficar quieto, convidaram um monte de palmeirenses. Assisti ao clássico cercado pelo inimigo. E o clima era de já ganhou, lembravam a todo instante da vitória deles no Paulista. Que o São Paulo não ganhou nenhum torneio que o Palmeiras Parmalat havia disputado junto. Foi um sarro só. Eu, no auge da minha confiança, dizia que a gente não queria estadual. O que interessava era a Libertadores. E os Palmeirenses riam.
O jogo começou e o Palmeiras fez jus a confiança dos seus torcedores. Lembro que novamente Zetti teve que fazer milagre. A cada ataque perigoso deles era uma zombaria comigo. Até minha mãe tirava sarro. Até chegar a um momento que não aguentava mais. A raiva era imensa, estava me sentindo humilhado. Foi quando o Palmeiras perdeu outro gol feito e quando todos viraram pra mim eu disse: “Já brincaram demais, meu time é mortal e só precisa de um lance” – acabei de falar isso e alguém aciona o filho do vento, Euler abria o placar. Meu grito de gol foi o mais gostoso da minha vida. Foi um urro. Aquele bando de palmeirense parecia que finalmente tinham caído na real de quem eles estavam enfrentando e por qual torneio. Tremiam.
Euler foi lá e fez o segundo. Eu sozinho, tirando sarro de um monte de palmeirense. Antes do jogo acabar muitos tinham ido embora de lá de casa. Nem viram o gol do Evair de falta, mas minha mãe e meu irmão não tinham essa sorte. Aturaram minha zoação até a final contra o Vélez. Eu não era a ovelha negra, era o rei supremo. Pena que este foi o último grande torneio do Telê Santana. Era o fim de uma era. Saudades. Que agora venha novas lembranças. O início de uma nova era.
Alexandre Drumond