
São Paulo e Bragantino se enfrentam nesta quarta-feira (7) pela 6ª rodada do Campeonato Paulista, no Estádio do Morumbi. O jogo não possui influência direta na classificação para a próxima fase e tem poucos atrativos para o torcedor. Mas esse confronto já teve capítulos marcantes no passado, com craques inesquecíveis, técnicos importantes e decisões de campeonato. Confira um pouco da história envolvendo o tricolor e a equipe de Bragança Paulista.
Anos dourados do Bragantino
Fundado em 8 de janeiro de 1928, o Bragantino alcançou destaque estadual e nacional apenas no final da década de 80. A equipe, até então desconhecida no país, começou a se estruturar e montar um forte elenco em busca do acesso para a primeira divisão do Campeonato Paulista. Tudo isso, graças à influência da família Abi Chedid, de origem libanesa, sempre ligada à cidade de Bragança e que fez altos investimentos no time local.
O ano de 1988 deu início ao período “dourado” da equipe, primeiramente com o título da Segunda Divisão Paulista, conquista que garantiu o retorno à elite do estado após 22 anos de ausência.
Em 1989, retornou ao comando máximo da equipe, Nabi Abi Chedid, que já havia presidido o Bragantino entre 1965 e 1977. Após ser presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) entre 1979 e 1982 e vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) entre 1986 e 1989, decidiu retornar ao Bragantino como patrono. Nabi foi responsável por trazer à equipe um jovem treinador na época: Vanderlei Luxemburgo.
No ano de 1989, o time de Bragança Paulista conquistou resultados expressivos. Campeão da Série Prata do Campeonato Brasileiro após derrotar o São José na final, garantiu vaga, pela primeira vez em sua história, na elite do futebol nacional.
No Campeonato Paulista do mesmo ano, o Bragantino também fez boa campanha. Venceu Novorizontino por 1 a 0 e Palmeiras por 3 a 0 (até então invicto) na segunda fase da competição, alcançando as semifinais. Para chegar à inédita final, a equipe teria de derrotar o São Paulo Futebol Clube.
Semifinal de 1989
Foram dois confrontos entre São Paulo e Bragantino para definir um dos finalistas no Paulistão de 1989. O primeiro deles aconteceu em Bragança Paulista, no dia 21 de junho, e o tricolor do Morumbi levou a melhor sobre o time comandado por Vanderlei Luxemburgo: vitória por 2 a 0 com gols de Mário Tilico e Raí.
No jogo da volta, três dias depois, nova vitória do São Paulo, dessa vez por 1 a 0. O autor do gol, mais uma vez, foi o craque Raí. Com a vitória por 3 a 0 no placar agregado, o tricolor chegou à final do Campeonato Paulista para enfrentar a surpresa São José (vice-campeã da Série Prata do Brasileiro no mesmo ano) que eliminou o Corinthians. O triunfo por 1 a 0 no Morumbi e o empate sem gols na volta deu o título paulista de 1989 ao São Paulo. O décimo sexto de sua história.
Abaixo, a foto do time campeão paulista de 1989.
Bragantino, campeão paulista de 1990
No ano seguinte, o São Paulo não repetiu a mesma campanha no campeonato estadual. Acabou em oitavo no grupo A e não se classificou para a segunda fase do torneio nem na repescagem. O regulamento não previa rebaixamento e o tricolor paulista foi deslocado no ano seguinte para o grupo B, com times de menor expressão.
Já o Bragantino, atingiu o ápice de sua história até então. Sem perder um jogo sequer diante de sua torcida na fase decisiva da competição, a equipe terminou como líder do “Grupo Preto”, garantindo vaga na final do Paulistão contra o Novorizontino, comandado por Nelsinho Baptista.
A final caipira (como ficou conhecida), teve seus dois jogos terminados em 1 a 1. O primeiro deles em Novo Horizonte e a partida decisiva em Bragança. Por ter feito melhor campanha na competição, o Bragantino sagrou-se campeão paulista de 1990. Foi a consagração de Vanderlei Luxemburgo e de grande jogadores como Mauro Silva, Gil Baiano, Mazinho, Alberto, João Santos e Sílvio (todos convocados para a seleção brasileira na época).

No campeonato brasileiro de 1990, o São Paulo chegou à final, mas acabou derrotado pelo arquirrival Corinthians. Já o Bragantino, fez uma boa campanha, eliminado nas quartas de final pelo Bahia e finalizando o torneio na oitava posição. No único confronto entre ambos, válido ainda pela primeira fase, o tricolor venceu por 1 a 0, no Morumbi.
Campeonato Brasileiro de 1991
A edição do Brasileiro de 1991 se iniciou antes do Campeonato Paulista. E ela seria especial para São Paulo e Bragantino.
Luxemburgo aceitou proposta do Flamengo, mas Nabi Abi Chedid foi rápido na substituição, trazendo Carlos Alberto Parreira. A equipe do Bragantino continuou com a mesma base do time campeão paulista, muito forte defensivamente e com um incrível poder de marcação no meio de campo, personificado na figura de Mauro Silva. As apostas ofensivas eram nas jogadas pelas laterais, com Gil Baiano e Alberto pela direita e Sílvio pela Esquerda. A equipe de Bragança Paulista sonhava alto.
A primeira fase do torneio nacional contava com 20 times. Apenas 4 se classificariam para as semifinais. São Paulo e Bragantino se enfrentaram em Bragança no dia 31 de março. A equipe tricolor saiu com a vitória, por 2 a 1. No mais, grande campanha de ambos os times, que terminaram empatados na primeira posição com 26 pontos. No entanto, a esquadra de Telê ficou a frente no critério de desempate, com duas vitórias a mais.
Nas semifinais, o São Paulo despachou o Atlético-MG após dois empates. Já o Bragantino, eliminou o Fluminense, vencendo por 1 a 0 em pleno Maracanã e garantindo a vaga diante de seu torcedor com um empate por 0 a 0. De acordo com o regulamento, os resultados das semifinais e finais continuavam contando pontos, portanto, o Bragantino ultrapassou o São Paulo na tabela com a vitória sobre o Fluminense. Com isso, se vencesse o tricolor na primeira partida, no Morumbi, já seria oficialmente campeão brasileiro, devido à diferença de pontos.
Primeiro jogo da final
No dia 5 de junho de 1991, São Paulo e Bragantino se enfrentaram no Estádio do Morumbi.
O tricolor, comandado por Telê Santana, entrou em campo com Zetti; Cafu, Ricardo Rocha, Ronaldão e Antônio Carlos; Raí, Elivélton, Leonardo e Bernardo; Müller e Macedo. Já Carlos Alberto Parreira levou para o jogo Marcelo; Biro-Biro, Júnior Paulista, Nei, Gil Baiano; Ronaldo Alfredo, Ivair, Alberto e Mauro Silva; Mazinho Oliveira e Sílvio.
O jogo foi movimentado e cheio de oportunidades para ambos os lados. O São Paulo começou melhor, mas ainda no primeiro tempo o Bragantino igualou as ações. Ricardo Rocha salvou em cima da linha o gol da equipe do interior.
No segundo tempo, Telê colocou Mário Tilico no lugar de Elivélton, machucado. E a estrela do comandante são-paulino brilhou. Com 4 minutos da segunda etapa, Tilico marcou após rebote de cabeçada e furada de Müller. Mais um do atacante contra o Bragantino (também marcou na semifinal do Paulista em 1989).
O São Paulo manteve o domínio do jogo, mas não ampliou. Final da partida, 1 a 0. O tricolor jogaria pelo empate na volta, em Bragança Paulista.
Confira a reportagem do primeiro jogo da final, feita pelo Globo Esporte.
Segundo jogo da final
Três dias depois, no dia 8 de junho de 1991, Bragantino e São Paulo disputaram o último e decisivo jogo do Campeonato Brasileiro. No estádio Marcelo Stéfani, apenas 12 mil pessoas testemunharam a partida do título (menor público da história de uma final de Brasileiro). No clube do interior, apenas uma mudança na equipe titular: João Santos no lugar de Ronaldo Alfredo. Já no tricolor do Morumbi, Elivélton, que se lesionou na primeira partida, deu lugar a Zé Teodoro.
O jogo foi nervoso. A equipe do São Paulo pouco atacou e o comando da posse de bola foi do Bragantino. Sem Elivélton na equipe, Cafu foi deslocado para a ponta esquerda e Zé Teodoro entrou na linha defensiva. A escolha de Telê em improvisar Cafu foi com o intuito de anular o bom lateral direito do Bragantino, Gil Baiano, um dos principais jogadores da equipe.
E deu certo! Contando com grandes defesas de Zetti, o tricolor segurou o ímpeto da equipe de Carlos Alberto Parreira e garantiu o empate sem gols. São Paulo tricampeão brasileiro, após perder as duas decisões nos anos anteriores, para o Corinthians em 1990 e Vasco em 1989.
Confira a reportagem sobre o título do São Paulo, feita pela Globo.
Lá se vão quase 30 anos…
O jogo de hoje não é uma final de Campeonato Brasileiro, nem uma semifinal de Paulista. Mesmo assim, é uma partida importante para o São Paulo mostrar sua evolução e acalmar um pouco seu torcedor que segue aflito com as atuações do time.
Em 1989, o Bragantino jogou a primeira divisão do Campeonato Paulista, após conquistar o acesso no ano anterior. Seu principal objetivo era permanecer entre os grandes por muito tempo. Já o São Paulo, buscava o título estadual após decepcionar no ano anterior, ser eliminado na fase semifinal e assistir de casa seu rival Corinthians ser campeão.
Em 2018, O Bragantino novamente joga a primeira divisão do estado, após conquistar o acesso no ano anterior. Seu objetivo, assim como há quase três décadas, é permanecer na série A. E o São Paulo, eliminado na semifinal em 2017 pelo campeão Corinthians, busca dar uma satisfação à sua torcida.
Em 1989, o São Paulo sagrou-se campeão paulista. O torcedor são-paulino espera que, em 2018, as coincidências envolvendo esses dois anos continuem acontecendo.
Álvaro Logullo