Há pouco mais de uma semana, o lendário centroavante e atual campeão da copa Sul-Americana como treinador, Hernán Crespo, desembarcou em São Paulo para assumir o maior desafio de sua carreira: dirigir o Boeing São Paulo Futebol Clube.
Sem responder muitas perguntas, o argentino que se mostrou empolgado com o SPFC (acredito que no momento ele e sua comissão sejam os únicos), deu uma resposta que me chamou a atenção. Ao ser questionado sobre assumir um gigante que não ganha nada há anos, Hernán disse que isso seria “Una hermosa responsabilidad”.
Os desafios não serão poucos. Serão muitos e imensos. Acalmar uma torcida fragilizada, cansada de carregar o time nas costas e que acabou de ver seus “representantes” entregarem um campeonato, o qual o clube não vence desde 2008, e estava sete pontos à frente do vice, não será uma tarefa fácil. Porém, eu acredito em você, Hernán. E digo mais, se após entrevistar alguns nomes (que poderiam ser até mais badalados que o seu) o enorme Muricy Ramalho escolheu você, isso significa que gabarito para estar aqui você tem.
No futebol, os números carecem de contexto. Simplesmente jogar no ar e dizer que o Crespo possui mais derrotas que vitórias na carreira não passa de uma análise rasa. Seu primeiro clube como treinador, o Modena da Itália, foi expulso da terceira divisão por não conseguir arcar com salários e decretou falência pouco tempo após a passagem de Crespo pelo clube.
O Banfield, segundo clube de sua carreira, também não passava pelo seu melhor momento financeiro e estrutural. No primeiro clube onde encontrou uma estrutura melhor, Hernán conquistou o título sul-americano com uma das “zebras” da competição. Porém, no São Paulo, ele não encontrará o cenário ideal para trabalhar. Crise financeira, nova diretoria, e muita, mas muita pressão por conta dos anos de fila e incontáveis vexames. Cenário este que para ele é “una hermosa responsabilidad”.
E, nesse momento, é exatamente disso que necessitamos. Entusiasmo, vontade e, principalmente estudo. Hernán, além de ter sido reconhecido pelo próprio Muricy como um treinador com “fome” de sucesso, sua trajetória de atleta, quando esse dividiu vestiário com treinadores, como José Mourinho e Carlo Ancelotti, garantiu-lhe contato com experiências vitoriosas.
Crespo possui a licença PRO concedida pela Uefa. Licença esta que hoje, no Brasil apenas Abel Ferreira, atual campeão da Libertadores, possui. Em um país com o futebol extremamente obsoleto, onde o talento individual dos jogadores sempre se sobressaiu em relação ao jogo coletivo e ao estudo tático, treinadores com estas perspectivas e gabarito (majoritariamente profissionais estrangeiros) tendem a sair vitoriosos do futebol brasileiro.
Obviamente, reforços pontuais (dentro da realidade financeira do clube), manutenção de peças importantes para o esquema e uma boa secada no elenco, buscando trocas envolvendo os jogadores que estiverem fora dos planos e uma boa sintonia entre diretoria e corpo técnico, é vital para o sucesso do clube. Mas, o primeiro passo já foi dado. O trabalho vai ser árduo, mas eu confio em Hernán Crespo. Eu confio que a “hermosa responsabilidad” se tornará em “hermosa jornada”. Motivos para acreditar em seu trabalho existem.
Seguindo em suas falas, que ele utilize a frase dita em seu anúncio, de que onde não chegam os pés, deve chegar o coração, junto de seu espírito argentino para transformar um time apático em um time com onze “Lucianos” em campo.
Saudações TRIcolores