San-São volta ao Morumbi pelo Paulistão após quatro anos; Entenda porque o Tricolor vem jogando poucos clássicos em sua casa na competição

No último San-São válido pelo Paulista e disputado no Morumbi, empate por 0 a 0. (Foto: Marcos Ribolli)

Neste domingo (18), o São Paulo recebe o Santos, no Estádio Cícero Pompeu de Toledo, pela oitava rodada do Campeonato Paulista. A visita do rival ao Morumbi é fato incomum há algum tempo. O último San-São disputado no estádio foi em outubro de 2015, em partida de ida da semifinal da Copa do Brasil. Já pelo torneio estadual, o hiato é ainda maior: desde fevereiro de 2014.

O clássico contra o Santos é o único deste Paulistão que será disputado na casa do São Paulo. No fim de janeiro, a equipe enfrentou o Corinthians no Pacaembu, com mando de campo do adversário e em março duela com o Palmeiras, no Allianz Parque.

Visitar os rivais em seus estádios vem se tornando frequente para o São Paulo quando o assunto é Paulistão. Nos últimos dez anos, o dono do Morumbi foi mandante em apenas 13 dos 30 clássicos que fez pela primeira fase do estadual. Essa discrepância nos números gera desconfianças no torcedor. Afinal, por quê tantos clássicos jogados longe de seu torcedor?

Azar nos sorteios? Perseguição da Federação Paulista de Futebol? Favorecimento dos rivais? Falta de influência nos bastidores? O responsável é, na realidade, o (complexo) regulamento do Campeonato Paulista. Entenda.

Mudanças de formato

O Campeonato Paulista passou por inúmeras mudanças em sua estrutura, ao longo de seus 116 anos de história. Já teve edições mais inchadas, como por exemplo em 1993, com 30 equipes participantes, mas também torneios mais curtos, com apenas 14 times, como em 1969. As fórmulas de disputa também se modificaram, por vezes com presença de fases mata-mata ou somente com a contagem em pontos corridos.

Para entender como funciona a escolha do mandante nos clássicos paulistas, vamos considerar apenas as edições a partir de 2005, quando o formato do Paulistão obteve uma maior estabilidade, mesmo que com algumas pequenas mudanças na estrutura de lá para cá.

No ano de 2005, o estadual passou a ter 20 times participantes, número que foi reduzido para 16 em 2017. No entanto, mesmo com a diferença no número de equipes e na quantidade de datas da primeira fase, o sistema de escolha de mando nos clássicos paulistas se manteve inalterado.

Clássicos frequentes

Os quatro grandes de São Paulo são sempre favoritos ao título e principais atrações do Campeonato Paulista. Sabendo da importância deles para o produto Paulistão, a Federação Paulista de Futebol (FPF) garante, através de seu regulamento, que todos se enfrentem ao menos uma vez, na primeira fase da competição. Entre 2005 e 2013, não era preciso tal medida, pois todas as equipes participantes se enfrentavam em uma fase de turno, com 19 rodadas. A partir de 2014, o sistema foi alterado e as agremiações foram divididas em grupos, onde os integrantes da mesma chave não jogam entre si.

Como solução, a Federação determinou os grandes sempre como cabeças de chave dos grupos, sem nenhum critério técnico envolvido, ou seja, não importam suas campanhas na edição anterior. Dessa forma, eles não ficam na mesma chave e se enfrentam naturalmente pela primeira fase. A única exceção é caso alguns deles seja rebaixado à Série A2 do Paulista. Nesse caso, um time fora dos quatro grandes teria que ser cabeça de chave na edição seguinte.

O responsável por decidir o mando de campo dos clássicos todo ano é o Departamento de Competições (DCO) da FPF, que também elabora as datas e horários dos jogos. No caso dos clássicos paulistas, diferentemente da escolha dos cabeças de chave, é utilizado um critério técnico para designar os mandantes.

Critério técnico

O DCO determina que dois dos quatro grandes de São Paulo disputem dois clássicos na primeira fase do Paulista como mandante. Resta aos outros dois jogar apenas um clássico diante de seu torcedor. A escolha de quem vai disputar dois jogos como mandante  é determinada através da campanha das equipes na edição do Campeonato Paulista anterior.

Os dois grandes que chegaram mais longe no último torneio estadual têm direito de, no ano seguinte, mandar dois clássicos diante de seu torcedor. Enquanto que os outros dois que ficaram para trás jogam apenas um. Caso duas equipes parem na mesma fase, a que tiver melhor campanha em todo o torneio tem a vantagem.

Exemplo: Em 2017, o Corinthians foi o campeão paulista e com isso, conquistou o direito de, em 2018, jogar dois clássicos como mandante. Já São Paulo e Palmeiras foram igualmente eliminados nas semifinais, porém, no somatório de pontos de toda a competição, o Palmeiras obteve a vantagem, com 34 pontos, contra 27 do Tricolor. Por isso, o Palmeiras foi o outro escolhido para mandar dois clássicos. Restaram ao São Paulo, como terceira melhor campanha, e Santos, eliminado ainda nas quartas de final, disputar apenas um clássico diante do torcedor, no ano de 2018.

Confira os clássicos da primeira fase do Paulista em 2018.

 

28/01 – Corinthians 2 x 1 São Paulo (Corinthians mandante) – 4ª rodada (domingo)

04/02 – Palmeiras 2 x 1 Santos (Palmeiras mandante) – 5ª rodada (domingo)

18/02 – São Paulo x Santos (São Paulo mandante) – 8ª rodada (domingo)

25/02 – Corinthians x Palmeiras (Corinthians mandante) – 9ª rodada (domingo)

04/03 – Santos x Corinthians (Santos mandante) – 10ª rodada (domingo)

08/03 – Palmeiras x São Paulo (Palmeiras mandante) – 11ª rodada (quinta-feira)

 

Rotação dos clássicos

O DCO também estabelece uma rotação entre os mandantes para impedir que o mesmo clássico tenha um mesmo mandante em anos consecutivos. Essa escolha não é embasada em nenhum critério técnico, apenas no bom senso e verificação dos anos anteriores.

Mas então por quê o clássico San-São passou três anos em sequência, entre 2015 e 2017, sendo disputado na casa da equipe do litoral, a Vila Belmiro?

Esse fato também tem uma explicação. Até 2016, o DCO utilizou critérios de rotação específicos, buscando sempre uma variação frequente entre os mandos dos jogos. Com a mudança no número de equipes do Paulistão, de 20 para 16, no ano de 2017, o DCO ‘zerou’ a rotação dos clássicos, sem se basear nos anos anteriores para escolher os mandantes.

O natural em 2017, seria o São Paulo receber o Santos, já que em 2016, mandou a partida contra o Palmeiras e em 2015, contra o Corinthians. No entanto, em 2017, o São Paulo acabou recebendo o Corinthians, novamente, adiando o retorno do Santos ao Morumbi, que ocorrerá neste ano.

Confira contra quais rivais o São Paulo foi mandante nos últimos 14 anos pela primeira fase do Paulista, as campanhas do Tricolor e a colocação entre os grandes em cada edição.

Desde 2013, o São Paulo vem jogando apenas um clássico diante de seu torcedor por ano. Mas isso se deve pura e simplesmente às campanhas ruins no Campeonato. Em nenhuma dessas edições o Tricolor terminou como detentor de umas das duas melhores campanhas entre os grandes. Dessa forma, a equipe nunca é ‘premiada’ com a oportunidade de receber os rivais por duas vezes.

Fases eliminatórias

Nos confrontos eliminatórios, o critério que define o mando é o de melhor campanha ao longo da própria edição. Em 2015, o San-São se repetiu na semifinal, mas novamente na casa do Santos. Isso porque a equipe da baixada somou mais pontos ao longo da primeira fase.

Nesse ano, as semifinais foram decididas em jogo único e, portanto, no total, já são quatro jogos seguidos entre São Paulo e Santos acontecendo na Vila. Neste domingo (18), essa sequência será, enfim, quebrada. Caso o San-São ocorra novamente em uma semifinal ou final, é certeza de que mais um jogo ocorrerá no Morumbi, pois o regulamento desta edição prevê jogos de ida e volta em todas as fases eliminatórias.

Importância do mando

O mando de campo nos clássicos paulistas ganhou importância ainda maior a partir de 2016. Em abril daquele ano, o Ministério Público determinou torcida única nos jogos que envolvem os quatro grandes do Estado, após a morte de um homem, durante confronto de torcidas de Palmeiras e Corinthians. A vítima não estava envolvida na briga.

Desde então, reuniões anuais ocorreram para debater a medida e, em todas, o MP, junto da Secretaria de Segurança Pública e presidentes da equipes, optaram por manter o decreto.

Campanhas ruins

O responsável pela pouca quantidade de clássicos no Paulista que ocorrem no Morumbi, nos últimos anos, é o próprio São Paulo. Campanhas inconsistentes e muitas eliminações em semifinais explicam o porquê dessa história.

No domingo (18), o Tricolor recebe o Santos pela 101ª vez em sua história no Morumbi, buscando vencer o rival, assim como fez ano passado em plena Vila Belmiro, quebrando um jejum de oito anos sem triunfo na casa do adversário.

O Tricolor tem de aproveitar seu único clássico em casa nesta primeira fase e buscar um bom resultado. Somente com uma boa campanha ao final do Paulistão será possível mandar mais clássicos no torneio, em 2019.

No Paulistão de 2017 o São Paulo venceu o Santos na Vila, por 3 a 1; A história vai se repetir no domingo? (Foto: Rubens Cavallari/Folhapress)

Álvaro Logullo

Álvaro Logullo

21 anos, estudante de jornalismo e devoto do São Paulo FC. Filho, neto, irmão e sobrinho de são-paulinos. Apaixonado por estádios de futebol, pretendo ir a todos os jogos do Tricolor, no Morumbi, em 2018. Porque se a fase é ruim, o amor é eterno!

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