Mais uma temporada do futebol feminino começou recentemente, com os velhos problemas e regressos da modalidade. E infelizmente, o São Paulo é um dos clubes que está mais longe de um bom trabalho: desde o retorno, em 2019, o torcedor tricolor não consegue criar um laço com o time, pela falta de manutenção do elenco, e principalmente por boa parte dos jogos estarem relegados ao CT de Cotia.
O São Paulo, entre os três grandes da capital, é o mais atrasado nesse ponto. São raras as chances de o torcedor abraçar o time feminino, que por sua vez, é privado da atmosfera tricolor. Pois não falo exclusivamente do Morumbis; nem mesmo o Corinthians, com uma torcida engajada no futebol feminino, leva todos os jogos para sua arena.
Desconsiderando a fase da pandemia, com portões fechados, são 21 partidas em estádios por São Paulo, de um total de 52 com mando tricolor; o Pacaembu foi a casa mais frequente, com sete, seguido por seis na Arena Barueri, quatro no Morumbis, três em Santo André, e um na Vila Belmiro.
E foi justamente no ano de reestreia, 2019, onde o São Paulo mais jogou em estádios, com 8 partidas. Nos jogos decisivos do Brasileirão Série A2, o torcedor teve a oportunidade de ir ao Pacaembu, e vibrar com o acesso e o título. Ouseja, durante o Paulistão, mais cinco jogos, com a ida da final no Morumbis.
O caminho era aumentar os jogos no estádio, e criar no torcedor, a cultura de estar ao lado também das meninas. Porém, após a volta do público, o número diminuiu: em 2022, foram 5 jogos em estádios, em um total de 15 com nosso mando. Em 2023, seis, em 16 partidas como mandante. O Morumbis recebeu o feminino pela última vez em dezembro de 2022.
E nas poucas visitas ao Morumbis, o São Paulo nunca favoreceu o torcedor. Nas finais do Paulistão, em 2019 e 2021, não abriu nem metade o estádio, mesmo com ambas no sábado, e em bons horários.
Em 2022, na semifinal do Brasileirão, o jogo contra o Inter foi em uma segunda-feira, 17h30; em pleno horário de pico na capital paulista. E com um detalhe: um dia antes, houve o Majestoso pelo Brasileirão Masculino, no Morumbis. Por que não fazer um esforço e promover uma rodada dupla na ocasião? As meninas jogando pela manhã, e o clássico 16h. Mas o público com certeza não faltaria.
Dito tudo isso, também não adianta levar jogos aos estádios, e expulsar o torcedor. No ano passado, o São Paulo optou por mandar jogos decisivos no Bruno José Daniel, em Santo André. Ou seja, estádio com acesso dificílimo de transporte público; além de estar em outro município, a estação de trem fica a 4 quilômetros.
Enquanto isso, o Nicolau Alayon, casa do Nacional da Barra Funda, recebia poucos jogos na quarta divisão estadual, e a partir de Abril; antes disso, o São Paulo mandou 4 jogos do Brasileirão em Cotia. Por que não tentar o empréstimo do estádio em pelo menos 1 ou 2? Pois um clube menor como o Nacional, com pouca entrada de dinheiro, dificilmente resistiria a ideia.
Um estádio próximo do CT da Barra Funda, ao lado da estação Água Branca, e que mal recebe jogos durante o ano. Em 2024, o Nacional não deve disputar a Copa Paulista, e a Série A4 termina em 12 de Maio, caso o os nacionalistas cheguem na final.
No atual Brasileirão Feminino, o São Paulo joga amanhã, em Cotia, contra a Ferroviária. Até o final da 1ª fase, são mais seis jogos em casa, por que não ir atrás do Nicolau Alayon? Um estádio com acesso fácil, e até melhor do que o Pacaembu em questão de segurança. Com bons horários e uma campanha nas redes, o torcedor com certeza faria sua parte.
Essa mesma linha é seguida pelo Palmeiras, mandando alguns jogos no Jayme Cintra, casa do findado Paulista de Jundiaí.
O futebol feminino precisa ser mais do que uma obrigação. Hoje, o São Paulo passa a lamentável imagem de sacrifício, de que tocar a modalidade é um martírio. Hoje, se o masculino caísse para Série B, é difícil imaginar a continuidade do projeto. Afinal, times da segunda divisão nacional não são obrigados a manter equipes femininas, vimos a covardia que o Ceará praticou em 2023.