Opinião: A evolução de Shamell Stallworth com a camisa do São Paulo

Reprodução/Twitter São Paulo FC

O ala de 39 anos chegou ao São Paulo com status de craque, sendo contratado para ser a estrela da equipe e a principal peça ofensiva de um time recém-chegado ao NBB. Shamell Stalworth é natural de Fresno, Califórnia, fez faculdade em San Francisco e disputa a competição nacional desde o ano de sua criação, em 2008, e é o maior cestinha da história do torneio, com 7,555 pontos. Além desse recorde, o norte-americano está perto de se tornar também o atleta com mais bolas de 3 na história da liga. Com 951 bolas triplas anotadas, faltam apenas 24 para ultrapassar o ex-jogador Marcelinho Machado, que já converteu 974 arremessos do perímetro. Mesmo com muitas conquistas durante a carreira, Shamell nunca conquistou o MVP, prêmio dado ao melhor jogador de uma temporada. Ele também nunca foi campeão do Novo Basquete Brasil.

A vinda do norte-americano para o São Paulo surpreendeu muitos dos amantes do basquete nacional pois Shamell sempre foi torcedor declarado do Corinthians, arquirrival do tricolor. Na preparação para o Campeonato Paulista, o ala, em uma entrevista para os canais ESPN afirmou que sentia algo pelo time alvinegro, mas que agora era são-paulino. Durante a disputa do estadual, o atleta foi cobrado por alguns torcedores em diversos momentos, principalmente quando cometia um erro. Também foi chamado de “gambá”, apelido ofensivo que os tricolores dão aos corinthianos.

Shamell estreou com a camisa tricolor no Campeonato Paulista, mas não agradou os torcedores. Inicialmente apresentou um basquete diferente do que vinha apresentando em Mogi nas últimas temporadas. Não usava de sua experiência e escolhia sempre as piores jogadas, tendo péssimas definições na maioria das vezes, chegando a errar até bandeja livre. Muitos apontaram que o problema era a idade do jogador estadunidense, que já estava no auge dos seus 39 anos e sofria com alguns problemas físicos.

O ala com inteligência diminuiu seu ritmo para preservar seu corpo para o NBB. Em uma entrevista após vitória sobre Pinheiros pela competição, ele citou que muitas vezes a mente quer mas o corpo não respondia. No estadual, o atleta são-paulino teve médias de apenas 12,6 pontos, chutando 24% na bola de 3, aproveitamento pífio para alguém de calibre. Jogando 29 minutos em média no campeonato, foi apenas o quarto cestinha do São Paulo. Ainda no Paulista, o São Paulo foi eliminado para o Franca nas semifinais. Na série contra a equipe do interior, Shamell sentiu muitas dores nas costas, o que sente até hoje, mas a partir dali o ala foi se poupando cada vez mais e fazendo seu próprio ritmo, o que ajudou muito na preparação para o NBB.

Para o NBB o São Paulo contou com uma mudança técnica que teoricamente ajudou o ala em sua evolução. Com a lesão do ala-armador Desmond Holloway o tricolor precisou contratar o ala Léo Meindl, uma troca que fez muito bem a equipe de Cláudio Mortari, que ganhou uma presença a mais no garrafão, além de ter em seu plantel alguém mais técnico, que carrega menos a bola, dando mais liberdade para Georginho e Shamell consolidarem as posses.

O norte-americano mudou bastante sua forma de jogar basquete e com o tempo foi conquistando entrosamento com seus companheiros de equipe. Shamell passou da posição 3 para a posição 2, se tornando um ala-armador no NBB. A mudança de posição encaixou bastante com o esquema do São Paulo, que tinha dois guardas que carregam a bola e distribuem o jogo. O ex-jogador de Mogi começou a utilizar bastante do seu corpo no poste baixo, conseguindo vantagem contra os marcadores menores e sempre finalizando aproveitando o missmatch. Os adversários tem apenas uma opção para conter a força do camisa 8, dobrar a marcação nele, mas deixar alguém livre no perímetro, situação que os comandados de Cláudio Mortari aproveitam.

Na atual temporada, Shamell começou sendo apenas a terceira opção ofensiva do São Paulo, deixando Georginho e Léo Meindl tomarem conta do protagonismo. Nos três primeiros jogos na competição, teve apenas 14 pontos de média, mas foi fundamental em uma vitória diante do Flamengo, onde anotou 24. A partir dali começou a se soltar, mas sempre como um silenciador, aumentando suas médias mesmo com o foco nos dois principais jogadores da equipe, como já citado acima.

Por ser o jogador mais rodado do elenco e também o mais velho, Shamell é o cara que passa experiência e tranquilidade para o resto da equipe. É o cara que quando a coisa aperta, coloca a bola de baixo do braço e resolve, já está acostumado com esse papel. Acima de tudo, é um líder dentro de quadra e sabe dosar muito bem a confiança dentro de uma partida. O ala faz um trabalho importante com a torcida, criando uma idolatria por suas comemorações com bastante energia que sempre fazem o Ginásio do Morumbi vibrar.

Shamell era o terceiro cestinha do tricolor em meados do primeiro turno, mas cresceu no fim e terminou sendo o segundo, anotando 17,2 pontos de média nos 15 primeiros jogos do NBB. O segundo turno do estadunidense vem sendo espetacular. Em 5 partidas disputadas tem incríveis médias de 22,6 pontos. Além da alta pontuação, o que chama atenção são as vitórias diante de São José e Paulistano. Nas duas ocasiões, Shamell iniciou mal nos dois primeiros quartos. Contra a equipe do Vale do Paraíba o time do Morumbi foi para o intervalo perdendo por 24 pontos e conseguiu uma triunfo espetacular liderado pelo ala, que anotou 33 pontos. No último duelo contra o rival paulista, o norte-americano também não esteve ligado no primeiro tempo, mas voltou pegando fogo e liderou o time de Cláudio Mortari para uma virada que reverteu uma vantagem de 14 pontos.

Com a eminente crescente, Shamell se tornou o segundo cestinha do NBB, atrás apenas do jogador de Minas, Leandrinho Barbosa. Com médias de 18,6 pontos, melhor pontuação desde 2016/17, o ala se firmou como a primeira opção ofensiva do São Paulo durante as últimas partidas. Ele também tem 3,5 rebotes e 3,5 assistências por jogo. É o atleta que mais tem a confiança do treinador Cláudio Mortari. Nos 20 jogos que disputou, não jogou menos do que 30 minutos em nenhuma partida. A média de minutos é assustadora para alguém de 39 anos, 37,2 por jogo, a segunda maior de sua carreira.

Fato é, Shamell se preservou pois sabe de seus limites, tanto físicos quanto técnicos. No Campeonato Paulista e no NBB vimos duas personalidades totalmente diferentes, tanto no jogo quanto na liderança. O ala foi se soltando com o tempo e vem encontrando seu encaixe nessa equipe com muita qualidade. Sempre muito tranquilo, grande parte das vezes escolhe as melhoras jogadas, o que origina em um field goal de 62,8% nas bolas de, além de 38,9 nas bolas de 3.

Diego Marcondes

Diego Marcondes

17 anos. Amante de basquete e são-paulino. Um dos percusores do Arremesso Tricolor. Também colaboro em Jumper Brasil e BasCast Brasil.

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