O São Paulo acabou

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Por: Rafael Oliveira

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Eu e você temos que aceitar: o São Paulo acabou. Este que vemos hoje é outro, que estamos aprendendo a amar de um jeito rude.

Nosso tricolor já foi o time onde a moeda cai em pé, do pó de arroz e do futebol mágico. Já fomos soberanos, e brigamos (tolamente pois isso jamais foi ou será vergonhoso ou ofensivo) para não sermos chamados de bambi. Tudo isso ficou para trás.

O São Paulo humildade e pés no chão que Júlio Casares quer apresentar, ainda não deslanchou. Ainda somos o time que nunca venceu a Copa do Brasil, que em quase dez anos venceu apenas o Campeonato Paulista, o que é pouco, bem pouco você há de concordar.

O São Paulo que conhecíamos acabou, é preciso dizer. Revezamos carência por todos os setores do clube: quando o ataque vai bem, nosso goleiro entrega; Volpi melhora e o meio campo para de criar. Volantes e o setor criativo se acertam e as laterais cruzam para ninguém. O time se acerta com um bom treinador e o Departamento Médico praticamente vai a falência; leva-se meses infinitos para recuperar jogadores jovens e velhos por igual. A imagem abaixo, do jogo contra o lanterna Chapecoense ilustra bem o nosso momento atual.

Créditos da imagem: @Xonarcz

A tristeza é tamanha que entre os equipamentos que o clube conseguiu nesse início de reformulação do CT está uma cadeira flexora e extensora, o básico do básico.

Obviamente que tudo isso não aconteceu do dia pra noite. Empatar com último time do campeonato brasileiro, com o ataque falhando tanto e o meio não criando nada não é algo que acontece da noite pro dia.

Primeiro Juvenal Juvêncio passou a agir com ares de ditador no clube. Mexeu no estatuto para beneficiar a si mesmo. Seus sucessores não foram melhores, ao contrário. Aidar, ex-presidente, é réu no Estado de São Paulo por corrupção, em conjunto com Leonardo Serafim, ex-diretor jurídico com bastante influência na administração do São Paulo, e Douglas Schwartzmann, atual secretário geral do tricolor.

Aliás, Casares assinou o contrato do clube com a TML Foco, empresa de Cinira Maturana, ex-namorada de Aidar. Ok, é importante dizer, este documento não teria gerado prejuízo ao clube, segundo investigação interna, embora ele também seja alvo de análise do Ministério Público. Entenderam o tamanho emaranhado? A namorada do presidente de 2014, fazendo negócios com o setor de Marketing do clube com aquele que viria a ser presidente anos mais tarde, utilizando o clube como intermediário em um contrato que previa uma gorda comissão de 20% em qualquer intermediação de marketing da feita pela empresa.

A situação é tão, mas tão antiética (para dizer o mínimo) que me vejo na odiosa obrigação de concordar com Daniel Alves (!!), quando ele afirma em sua participação no Flow Esporte Clube, que a diretoria são paulina era desorganizada e sem um bom planejamento. Quando o Dani Alves aparece como uma pessoa minimamente sensata, você entende o tamanho do problema em que se meteu…

Não ganharemos nada além de títulos ocasionais, com lampejos de um bom time a não ser que a estrutura do clube seja colocada abaixo e refeita. O que vemos em campo é o reflexo do que há por trás.

Para ser honesto, entretanto, é preciso dizer que sim, o São Paulo acabou – e continua acabado enquanto escrevo este artigo dolorido – mas que há coisas boas acontecendo agora no clube e que a torcida precisa entender para que um novo São Paulo nasça em breve.

Em outros tempos teríamos em campo Benedetto e Calleri, jogando juntos e de modo completamente irresponsável com o futuro do tricolor. Não é o caso. Muricy tem repetido inúmeras vezes: não tem dinheiro e não vamos fazer loucuras. Traduzindo: para que haja amanhã é preciso sofrer hoje. E como sofremos.

Houve tempos em que o São Paulo trocou de treinador três vezes em uma única temporada. Quando isso acontece, convenhamos, é porque a diretoria pesquisou mal o mercado, contratou mal o treinador e sua equipe, além de gerenciar mal os problemas com a torcida. Quer dizer, está tudo errado. Isso quer dizer que o fato do Crespo continuar no comando do São Paulo apesar de ter caído como caiu na Libertadores e na Copa do Brasil, além da campanha horrorosa no Brasileirão (um dos piores ataques da história do São Paulo além de um time sem alma com raras e honrosas exceções) mostra que, dentro do possível, essa situação era esperada.

Comissão técnica e diretoria alinharam expectativas e, por hora, está tudo razoavelmente dentro do planejado. Aqui você vai dizer: “Mas Rafa, que planejamento merda é esse em que a gente perde tudo?”

E eu respondo: esse é o planejamento possível. É o que da pra planejar com a bomba que foi armada por anos e anos dentro do São Paulo. Jogo se ganha no treino. Campeonatos se ganham nos bastidores. O campo é a última etapa de um processo muito maior e mais complexo. É triste, mas é o que é.

Também é bacana falar do Programa Integridade Tricolor, que nada mais é que um compliance com o objetivo de alinhar práticas e procedimentos éticos dentro do clube para melhorar a transparência para quem trabalha no São Paulo, além de sinalizar para investidores e parceiros que o São Paulo pretende ter mais seriedade a partir de então.

E por fim, algo que ainda não foi feito, mas tem que ser discutido pela torcida, que é a separação entre a gestão do futebol e a gestão social do clube, para haver mais profissionalismo nos dois lados, além de quebrar um tabu brasileiro e pensar mais a fundo se o nosso futuro não passa pela transformação do São Paulo em um clube empresa aos moldes do futebol inglês, por que não?

Se com tudo isso o tricolor voltar a jogar o futebol que encantou o mundo no passado, você seria contra amigo torcedor?

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