Muito mais que um gol nos acréscimos: porquê Fernando Diniz merece muitas críticas

A semana foi de fortíssimas emoções para os torcedores do São Paulo. No domingo (01), surpreendentemente, o Tricolor fez 4×1 no Flamengo em uma parida cheia de alternativas e com Tiago Volpi defendendo dois pênaltis na última rodada do Campeonato Brasileiro. Na quarta-feira (04), a eliminação com requintes crueldade para o Lanús na segunda fase da Copa Sul-Americana. Para o bem e para o mal, é impossível não citar o nome de Fernando Diniz.

Hoje, o São Paulo é um dos pouquíssimo times no Brasil que, de fato, tem um trabalho autoral. É, também, o segundo trabalho mais longo em grandes equipes do Brasil – já são treze meses. Todas as imensas idiossincrasias do São Paulo, de alguma forma, passaram a se confundir com o próprio Fernando Diniz. E é preciso falar a respeito disso de cabeça fria – algo que, aparentemente, muitos não conseguem

Eu cobri São Paulo x Lanús na Rede Contínua – vou deixar a transmissão incorporada aqui abaixo para que você acompanhe caso queira. E, obviamente, eu vou falar do jogo como um todo por aqui – e logo. Mas o tema que mais estava na resenha após o jogo (se não tem resenha entre jornalistas após uma transmissão não é jornalismo) era o gol sofrido nos acréscimos após conseguir o 4×2. Muitos falavam que Diniz fez certo e que certas coisas acontecem, simplesmente. Eu não concordo. Discuti com quem estava no estúdio naquele momento. Li comentários e indiretas a minha pessoa me inferiorizando. Fiz uma imensa autocrítica. Me perguntei se não estava errado, se não estava pegando pesado demais com o treinador. Pensei, pensei pensei e, na verdade, apenas encontrei mais embasamento para reforçar as críticas que sempre faço a ele.

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O primeiro tempo do São Paulo contra o Lanús foi medonho. O São Paulo encontrou um gol (Daniel Alves fez uma partida majestosa e mereceu, por sinal) e tomou só dois do Granate porque, basicamente, a equipe argentina é composta por um centroavante, um bom reserva (Lautaro Acosta) e garotos que, até outro dia, estavam saindo das fraldas. Se fosse um time um pouco mais maduro, o SPFC seria massacrado na primeira etapa.

Tudo isso não apenas porque os atletas estavam jogando mal – e estavam. Isso, na verdade, faz parte de todo um processo. No primeiro tempo, o São Paulo insistia na chamada (e, por mim, odiada) Saidinha Diniz. Eu já tenho poréns com times que se recusam a dar bicões para frente quando necessário (e apenas quando necessário, deixo claro) ou que não buscam lançamentos longos. No caso do Tricolor, é ainda pior. A Saidinha Diniz exige que um homem do meio de campo (Daniel Alves, Gabriel Sara, Igor Gomes ou outro qualquer) vá até a área para dar mais opções para toques curtos. E, muitas vezes, o SPFC só sai jogando assim.

Na minha modesta concepção, o melhor técnico não é aquele que imprime sua marca indelével em uma equipe. Eu prefiro treinadores que tenham repertório. E se tem algo que Fernando Diniz não tem é repertório. Se muitos acham legal bater o olho e falar “Esse time é treinado por Fernando Diniz”, me dá calafrios ver que ele joga do mesmo jeito contra a Penapolense ou contra o River Plate, na segunda rodada do Paulistão, na 35ª do Brasileirão ou nas quartas-de-final de um mata-mata qualquer. O primeiro tempo contra o Lanús foi a prova cabal disso. Com Saidinha Diniz (e só com a Saidinha Diniz), o SPFC só sabe chamar o adversário para o próprio campo. Pior: para a própria área.

Sempre tem aquele que vai ler o comentário acima e falar “Ah, mas você não viu aquele gol do Arsenal contra o Liverpool?”, ou, para ficar nos assuntos tricolores, “Você não lembra como foi o segundo gol do São Paulo no 2×0 contra o Palmeiras no Allianz?”. Eu respondo com outra pergunta: para cada um desses gols, quantas não deram errado? Mais: quantas saídas de bola erradas não deram gols para o adversário? LDU e River Plate que o digam, por sinal. E, para arrematar: o primeiro drible no segundo gol contra o Palmeiras foi para cima de Luan, que estava contundido e fazendo número. É leviano usar a primeira metade daquele gol.

Para terminar tudo que eu queria falar sobre aquele tétrico primeiro tempo de São Paulo x Lanús: Fernando Diniz parece ter extrema dificuldade em aprender com os próprios erros. Os defensivos eu acho que não preciso nem falar, já que montar defesas não é o forte do técnico. Mesmo assim, deixo um tweet abaixo desse parágrafo que, na minha visão, deixa claro o quanto certos erros absurdos se repetem no sistema defensivo tricolor. Tem outros, porém.

 

Para mim, não fazer rodízio de jogadores com um dos melhores elencos do Brasil (e, acredite: o elenco do São Paulo é um dos cinco melhores do país com alguma sobra) é um erro. Isso fica ainda pior quando vemos que, de tempos em tempos, o SPFC, simplesmente, para de jogar bola do nada. Isso tem uma explicação óbvia: estafa. No futebol contemporâneo, cada vez mais físico, é humanamente impossível exigir o mesmo rendimento se o atleta faz muitos jogos em sequência. Para você que fala “Ain mas o time do Telê jogava todo dia”, veja um VT dos jogos da década de 1990, muito mais pausado. O ritmo de jogo de hoje é alucinante perto do que era, simplesmente. O próprio Fernando Diniz falou que não gosta de rodar o elenco na famosa entrevista ao Bem, Amigos! na última segunda-feira (02). Eu vou citar essa entrevista novamente mais para frente, por sinal.

Para voltar a São Paulo x Lanús: vocês não acham estranho que, toda vez que a diretoria, de alguma forma, interfere na escalação do time, o SPFC melhora de rendimento e de resultado? Essa “coincidência” passa por motivos físicos e pela arrogância de Fernando Diniz. Sim, arrogância. Ele é inteligente demais (e isso é ótimo) para não ver tanta coisa errada – que eu, muito menos inteligente que ele, vejo. A diretoria também vê. Uma pena que a diretoria de futebol do São Paulo, omissa e passadora de pano para um técnico que nunca conquistou grande título algum, apenas entre em ação quando a situação é extrema. Por sinal, também falarei da diretoria mais para frente.

Fernando Diniz voltou para o intervalo apenas com um zagueiro. Ao longo do segundo tempo, ele, pasmem, ficou sem zagueiro de origem algum. Isso é completamente inadmissível. Jogar sem atacante de origem é algo aceitável, você pode achar um gol chutando de longe ou colocando um zagueiro alto como centroavante. E muito me causa espécie ver que os defensores de Fernando Diniz, que o chamam de moderno, batam palmas para quem trouxe um conceito futebolístico do século XIX para 2020. Não há, na verdade, nada mais arcaico que colocar um monte de atacante em campo. Basta estudar a história do futebol.

Eu, aqui, nem preciso falar o quanto Fernando Diniz costuma errar ao fazer substituições. Não vou me ater a uma ou a outra, vou falar do geral. Além de deixar o time sem zagueiros, ele manteve Luan em campo. Luan, para mim, é peça fundamental do time em jogos que o SPFC precisa de uma força defensiva maior. Marca bem, desarma bem. Mas ele é lento. Como deixar um jogador assumidamente lento como o homem mais recuado em campo? É deixar o time exposto demais. E um time exposto demais para os padrões Fernando Diniz é algo incrível. Tudo isso em um jogo mata-mata, é sempre bom lembrar.

Se a intenção era deixar o time extremamente exposto, era essencial que Diego Costa ficasse em campo. Tirá-lo é um erro sem tamanho. Sim, ele estava mal. Mas ele é o mais rápido dos zagueiros que entrou em campo. E, mais do que isso: ele estava aquecido. Você vai entender o motivo pelo qual estou falando isso em breve.

Você, nesse momento, deve estar me jurando de morte por tanto azedume. Caso ainda tenha o mínimo de raciocínio, deve estar falando “O São Paulo fez o 4×2 justamente porque o Diniz jogou sem zagueiros”. Em partes, sim. A questão é que tomou o terceiro gol justamente porque, por muito tempo, jogou sem zagueiros. Lembra quando eu falei de ter um zagueiro aquecido? Pois bem: assim que fez o quarto gol, Diniz colocou Arboleda e Léo Pelé – que nem zagueiro é, por sinal. Segundos depois, tomou o tento. Eu aposto qualquer coisa que, caso Diego Costa ficasse em campo, o SPFC estaria classificado para as oitavas de final da Copa Sul-Americana. Repito: não porque ele estava bem, pelo simples fato de que não estava. Mas por estar aquecido.

Fernando Diniz tem extremas dificuldades para montar defesas, como já falei por aqui. Se tivesse essa valência, saberia que atacantes podem errar algumas vezes antes de acertar. Veja Pablo, que, antes de marcar contra o Lanús, finalizou algumas vezes errado. Zagueiro, simplesmente, não pode falhar. E, para não falhar, precisa estar aquecido. Esse é o meu ponto.

Outra coisa: não, o SPFC não fez o 4×2 apenas porque jogou sem zagueiros. Sem os defensores, via de regra, não tem Saidinha Diniz. No segundo tempo, o São Paulo teve aproveitamentos melhores em bolas longas e em cruzamentos, além de ter cruzado mais bolas na área – tudo isso quando comparado à primeira etapa. Ou seja: no momento em que o São Paulo jogou melhor, o time foi melhor, justamente, quando não aplicou o dinizismo. Falarei disso mais para frente e citando outro jogo.

É óbvio que a culpa não é só de Fernando Diniz. O time do SPFC, cheio de garotos, não poderia deixar ter jogo depois do quarto gol. Isso é imaturidade da equipe. A diretoria do São Paulo, por motivos óbvios, também tem imensa culpa no cartório. Mas, como eu falei para cima, tem muita coisa que deve ser imputada a ele. Não só no jogo contra o Lanús, por sinal.

Como já foi dito aqui, Fernando Diniz está há treze meses no São Paulo. Dentre as grandes equipes do Brasil, ele perde, apenas, para Renato Gaúcho no Grêmio. Com tanto tempo no comando, todo erro deve ser ainda mais criticado, enquanto todo elogio deve ser atenuado. Por um motivo muito simples: ele deve saber o que fazer em cada situação, por já conhecer bastante o time, o clube e tudo mais. Ver um time que toma tantos gols, da mesma maneira, com os mesmos erros, após treze meses é extremamente frustrante para o torcedor. Esses erros, após esses treze meses, simplesmente, não deveriam mais acontecer. São uma amostra de um trabalho cheio de erros. Por sinal: é impressionante o quanto muitos jornalistas, nos últimos tempos, passaram a fazer críticas a Renato Gaúcho – que não são acompanhadas de palavras pouco amigáveis a Fernando Diniz.

Para finalizar sobre os erros de Diniz: ele disputou cinco jogos em mata-matas. Tomou catorze gols. São quase três gols por jogo, em média. Ele, que falou que não vê diferença entre jogos e gosta de jogar todos de maneira igual, aparentemente, é vítima de quem sabe as distinções entre cada jogo. De quem tem repertório. De quem, hoje, é mais técnico que ele. De Ricardo Catalá, Rogério Ceni e Luis Zubeldía. Detalhe: tudo isso tendo a melhor defesa do Brasileirão até aqui, com catorze gols sofridos (o mesmo número, ironicamente) em dezesseis jogos. Pois é.

É claro que o trabalho de Fernando Diniz não é apenas cercado de erros. A melhora do meio de campo do São Paulo com ele é evidente. A quantidade de garotos aproveitados, idem. A dupla de ataque, então, nem se fala. O desempenho em clássicos é notável, também. Mas, como eu disse antes: em treze meses, isso merece uma nota no rodapé. Os elogios deveriam ser a tônica em um trabalho tão longo. Não são porque cada erro, ao meu ver, deve, sim, ser esmiuçado. E o trabalho de Fernando Diniz também tem erros às pencas.

Após a eliminação para o Lanús, um amigo publicou no Twitter algo como “jornalista não pode ser resultadista nem oportunista”. Obviamente eu respeito a opinião dele. Eu, entretanto, acho que o jornalista também deve analisar a situação do time no qual está trabalhando naquele momento. E o São Paulo, nesse momento, tem o dever de ser pragmático. O São Paulo não vai ter paz enquanto voltar a ser campeão. Eu por vezes falo que o São Paulo tem que vender a alma ao diabo para ganhar um título qualquer. Já fez isso algumas vezes e não conseguiu nada – e a conta sempre chega. A questão é que, com o título, tanto os diretores quanto a torcida deixam o caminho bem mais tranquilo – ou seja, o pagamento da venda da alma ao diabo chega em prestações bem mais tranquilas. Ainda mais no clube que acostumou a empilhar títulos e troféu algum levanta há oito anos. E time nenhum ganha título levando catorze gols em cinco jogos. Também espero que todos os leitores saibam que a chance do São Paulo ser campeão do Brasileirão é mais ou menos igual a de uma vaca voar com asas de argila da Oceania até o Congo.

Ao chegar em casa após a transmissão, vi uma publicação de outro companheiro jornalista falando sobre Flamengo 1×4 São Paulo. A publicação dizia que era evidente o bom trabalho de Fernando Diniz, com a saída de bola. Aí é que está: a grande virtude de Fernando Diniz contra o Flamengo foi, justamente, não ser Fernando Diniz. O SPFC começou o jogo com a infame Saidinha Diniz, mas, depois, do 1×0, passou a arriscar mais bolas longas. Foram, ao longo da partida, 55 – com 63% de aproveitamento. Tais números são muito bons até mesmo para equipes do futebol europeu. Ao elogiar a saída de bola do São Paulo contra o Flamengo, o companheiro em questão, na realidade, não está elogiando Fernando Diniz. Pelo contrário: está criticando-o. As palavras deixam claro que o técnico, quando sai do mundinho da bola curta, agrega ao seu jogo. E é esse o caminho. Ficar preso a uma saída de bola que só sabe desgastar o time e expõe deveras toda a equipe não é um erro, é um completo suicídio.

Para finalizar: eu acho inacreditável o quanto um técnico que faz um trabalho cheio de erros tem tantos defensores. O SPFC24Horas está cheio deles, e eu respeito cada um deles, obviamente. Mas… o trabalho dele é bom o suficiente para que a diretoria o segure treze meses no cargo? Por que a diretoria de futebol que sacou Diego Aguirre do cargo porque o time não conseguia mais jogar um bom futebol (isso após empatar em Itaquera) insistiu em um trabalho com tantos erros?

E não são apenas diretores. Voltando à entrevista de Fernando Diniz ao Bem, Amigos!: ela me pareceu muito mais uma ode ao técnico que uma entrevista de fato. Aos fãs do mundo pop: a entrevista de Diniz ao Bem, Amigos!, na grande maioria do tempo, pareceu um imenso fan service. Em momento algum ele foi pressionado. Lá ele pode mostrar o quanto é maravilhoso, o cotidiano, o dia a dia, as ideias. Até mesmo um tema mais espinhoso (o rodízio de jogadores) foi tratado em tons pastéis demais. Já vi, no mesmo programa, técnicos serem surrados – lembre-se da histórica participação de Vanderlei Luxemburgo alguns anos atrás na atração, por exemplo. Com entrevistadores que mais pareciam fãs, é muito mais fácil falar bonito. Após a eliminação para o Lanús, por sinal, ele estava bem mais ríspido que no SporTV. Curioso. Tudo isso não quer dizer que a entrevista não tenha sido boa, por sinal. Com todo mundo levantando para ele cortar, entretanto, fica bem mais fácil.

Fernando Diniz, hoje, é um técnico bem melhor que aquele que chegou ao São Paulo. Ele, entretanto, precisa evoluir muito mais para se tornar uma parte do quão bom muitos acham que ele é. Para que pare de tomar gol nos acréscimos.

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