
Em participação do programa ‘Bem Amigos’ do SporTV, o técnico do São Paulo Fernando Diniz falou sobre o trabalho, pressão por resultados, ‘resultadismo’ do futebol brasileiro, trabalho com Brenner e jovens garotos, citou o empenho do Daniel Alves, e muito mais em pouco mais de uma hora e meia de programa.
Julgamento
“O julgamento que se faz e todo mundo faz uma pressão exagerada é que em seis dias aquilo que era bom deixa de ser bom. Assim como eu entendo perfeitamente com as palavras do Dome ontem que um time que tinha 12 partidas invictas, com nove vitórias, sofre um revés contra o São Paulo e todas as perguntas são negativas, questionando tudo, o sistema defensivo… Aconteceu com ele, já aconteceu comigo, vai acontecer com outros”
Pressão
“Fica uma pressão exagerada, que passa para o torcedor e não faz parte da realidade. Ontem jogamos bem, tivemos méritos, mas o Flamengo perdeu pênalti, bola na trave, uma outra chance de gol. O jogo contra o Inter, por exemplo, a gente chutou 19 vezes, o Inter quatro, e o jogo terminou 1 a 1. Aquele desempenho do Inter foi condizente com ontem. O futebol então não se explica com o resultado final da partida. Da mesma forma que o Flamengo ganhou de 5 a 1 do Corinthians não refletiu totalmente o que foi o jogo. Eu assisti esse jogo para analisar o que tinha que fazer no jogo de ontem. Enquanto a gente ficar insistindo em pegar o resultado do jogo e justificar o resultado para fazer todas as análises a gente vai continuar patinando aqui”.
Mudança constante
“Aqui em seis dias eu não servia mais. Ontem a gente ganhou de 4 a 1 do Flamengo e hoje devo estar servindo. Isso para o modelo do Brasil a gente não vai caminhar para lugar nenhum”
Diniz citou exemplos do Klopp no Liverpool que nas três primeiras temporadas não ganhou títulos, mas na quarta levou tudo. E também citou Pocchetino no Tottenham, que não foi campeão, mas teve grande desempenho e resultados mesmo sem título.
Rodízio
“Eu tenho como característica ser mais resistente a esse tipo de rodízio. A gente está formatando um time que está tendo uma sequência. Acho que com a sequência de jogos com o mesmo time, o time fica mais forte. Quando todo mundo está jogando consistentemente, dá para mexer um pouco mais, mas este é o terceiro time que a gente monta esse ano, que tem uma sequência”
Calendário recheado
“Eu não sei como a gente lidaria com a situação de três jogos na semana. No atual ritmo, mesmo com as viagens, os jogadores estão à vontade, a gente está com o time calibrado, poucas lesões. Talvez essa maneira de pensar eu tenha que adaptar se isso acontecer”.
Estilo de jogo igual
“Eu não mudo o jeito de jogar em pontos corridos e mata-mata. Acho que é (importante) sedimentar uma maneira de jogar. Acho que muitas modificações enfraquecem o time. Não adaptações. Adaptações, a gente tem que fazer, mas a gente procura melhorar e aprofundar o jeito de jogar do time. A tendência é não priorizar competições. Se estivermos em três, vamos tentar ganhar todas”.
Recuperação do atleta e ser humano
“Enquanto fui jogador, o que mais vi é uma distorção que eu tento corrigir. Um jogador que joga bem passa a ser uma boa pessoa, o que joga mal passa a ser uma pessoa que não deve ser respeitada. Essa foi uma das coisas que mais me fez sofrer como jogador profissional. Isso acaba matando muitos talentos logo na nascente. É difícil suportar isso.”
“A gente tem ilusão que o jogador que chega com 13, 14 anos, como o Brenner, vai ser a solução. Mas a base tem muito pouco da parte humana. Os jogadores vão para escola para passar de ano. Já nas categorias de base ele tem que dar retorno para alguém, tem que jogar bem para agradar empresário, mãe, pai… Ele sempre está pressionado para poder ser aceito. Para o ser-humano isso é muito ruim”
Caso Brenner
“Na minha função de técnico, o que mais gosto é poder promover um bem-estar às pessoas que trabalham comigo, principalmente os jogadores. O Brenner é um jogador que chegou com 13 anos no São Paulo. Um menino que chorou muito em Cotia. Agora está batendo cabeça desde que subiu com 17 anos e a gente acha que ele vai resolver todos os problemas do clube. O Brenner estava quase indo para o quarto ano sem jogar. E não foi uma conversa que tive com o Brenner, foram várias conversas. Levei ele para o Fluminense a custo zero. Lá começamos nossa relação de aproximação”
“Quando cheguei no São Paulo pedi para ele voltar. Eu fui convencendo o Brenner que ele precisava mudar, precisava encarar o futebol com seriedade, porque futebol ele tem muito para dar. Hoje ele é muito mais solidário, mais responsável, disciplinado, gosta de ajudar o outro. São características humanas, eu não ensinei o Brenner a jogar futebol. Pouco falo para ele de posicionamento, ele ele que me dá soluções com os gols que faz. No nosso time, do jeito que proponho futebol, aquele que tem essa capacidade de ajudar, de ser solidários se entregar pelo time acaba sendo beneficiado”
Daniel Alves
“De maneira geral, os garotos estão mais abertos ao que a gente diz. Mas quando os jogadores percebem que o discurso é franco e tem conteúdo e firmeza, eles entendem. Não tive problema no São Paulo, nem com mais novos nem com mais velhos. E tenho o Daniel Alves como grande par desde a minha chegada, entende muito o que eu quero de futebol, minha ideia”.
“O Daniel Alves é um ícone do futebol, tanto pelos títulos que ganhou, como pela pessoa que ele é. O que ele é de verdade, aparece pouco para quem está fora, para quem não o conhece internamente. Ele chega comigo no CT todos os dias. Eu chego duas horas antes de iniciar o treino. Ele começa antes, ele treina e termina depois. Ele cuida da alimentação de maneira radical, do horário de sono. Ele se entrega totalmente ao São Paulo, aos companheiros, a comissão técnica e à instituição. Às vezes, as coisas não acontecem tecnicamente, mas ele sempre dá a cara para bater, sempre quer jogar e sempre está entre os três que mais correm. Esse é o Daniel Alves. Ele nos ajuda sobremaneira”.
Outros assuntos
Diniz foi questionado sobre possível mudança na diretoria após eleição de dezembro, sendo que o desfecho da temporada será somente em janeiro e fevereiro, seja Copa do Brasil, Sul-Americana e Brasileirão, nos dois primeiros caso o time esteja classificado ainda… Diniz frisou que o foco é no momento, mas que espera que tenha alguma transição de diretorias, que seja o melhor para o São Paulo.
Também falou que não costuma ver os comentários da internet, mas que acaba chegando nele, porém que não afeta o trabalho.
Logo no começo também discordou da pergunta de Everaldo Marques sobre a demora em colocar Luan como titular, citou que colocou no momento certo e que o Luan evoluiu muito de 2019 para cá. Disse que antes o volante estava reduzido a fazer uma função para se sair bem na carreira e que com ele trabalhou outras maneiras de atuar.
Citou também sobre escalação ideal e se o momento é de futebol ideal do que ele projeta no São Paulo… E também sobre a saída de bola que é característica dos seus times, sempre explica e fortaleceu que é algo muito bem treinado para evitar erros como o que aconteceu com a LDU em Quito, que foi o único na lembrança do treinador.
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