Sem dúvidas uma das grandes sensações do futebol brasileiro nesta temporada é o São Paulo comandado por Hernan Crespo. Com 7 vitórias em 9 jogos (81,4% de aproveitamento), o tricolor soma 5 vitórias consecutivas, incluindo clássico fora de casa contra o Palmeiras e placar elástico quebrando os 6 meses de invencibilidade do Sporting Cristal, no Peru. O time comandado pelo argentino tem como característica principal a obediência tática e a intensidade. Mas você sabe como joga o São Paulo “encrespado”? Hoje, farei uma análise tática sobre a equipe que vem encantando a torcida tricolor.
Formação:
Crespo utiliza no SPFC uma formação muito conhecida tanto pelo treinador quanto pela torcida são-paulina. Adotada por Hernan em seu último trabalho e por Muricy Ramalho no tricolor, o 3-4-1-2 foi o esquema escolhido pelo argentino. Esta formação, compactua com o estilo de jogo proposto pelo treinador, que tem como principal ideia para este trabalho um time amplo (ou “alargado”como ele gosta de dizer) facilita a ideia do time em jogar forçando o adversário pelos lados, trabalhando bem a bola usando marcação alta.
Com os alas bem enfiados, volantes com bom trato na bola e participações efetivas dos zagueiros na construção, o time trabalhado por Crespo se mostra como um time muito bem postado, intenso e ofensivo mas que corre poucos riscos defensivos.
A importância dos zagueiros e o importante papel de Léo:
Assim como Fernando Diniz, Hernan Crespo também dá muita importância para a saída de bola em seu trabalho, entretanto, com algumas diferenças. Enquanto no último o tricolor usava a saída curta para tentar chegar tabelando ao campo adversário com superioridade numérica, Crespo opta por utilizar seus zagueiros de lado como “construtores”. Arboleda e Léo, utilizados nestas posições, são constantemente acionados para conduzir a bola, buscar um passe em profundidade ou buscar uma triangulação. A principal ideia desta jogada é o avanço do zagueiro de lado com a bola junto com a movimentação sem a bola do ala pelo lado onde ocorre a jogada e o avanço dos volantes. Isso como consequência, faz com que o time adversário fique retido no campo defensivo e tenha poucas chances de “jogar”.
E é aí que entra a enorme importância de Léo para a manutenção do esquema. O ex-lateral acabou se mostrando como o zagueiro canhoto que era o desejo do treinador. Por ter uma qualidade técnica elevada se comparado aos demais companheiros de zaga, ao conduzir a bola pela defesa e/ou buscar um bom passe vertical, Léo quebra as linhas dos adversários, possibilitando inúmeras situações de ataque ao SPFC. Seja com uma triangulação no campo de ataque ou com passes verticais ao ala. Isso acaba gerando tranquilidade não somente ao centroavante, seja ele Pablo ou Éder (que não precisa voltar para buscar jogo) mas também para o meia (Igor Gomes ou Benitez) e para Luciano, que ficam livres para se deslocar.
Os alas como arco e flecha:
Além dos zagueiros de lado, os alas são vitais para manter a funcionalidade do esquema de Crespo. Com a proteção de um esquema com três homens de defesa, naturalmente as obrigações defensivas dos alas diminuem e o apoio no ataque aumenta, principalmente pelo lado esquerdo, com Reinaldo.
A livre movimentação dos alas permite uma maior amplitude e profundidade nas investidas ofensivas dos comandados de Hernan Crespo. Seja Reinaldo, Wellington, Igor Vinicius ou Galeano, os alas de Crespo tendem a se movimentar buscando alargar o campo com o intuito de desorganizar a marcação adversária, expandindo e campo e gerando espaços. Além disso, o papel de finalização de jogadas também existe com os alas. Enquanto a jogada acontece pela direita, o ala esquerdo acompanha a jogada, muitas vezes entrando na área ou ficando na entrada esperando a finalização ou um rebote. No caso de Dani Alves, a função se modifica um pouco. Quando aberto pela ala o camisa 10, ao invés de buscar amplitude máxima acaba fechando por dentro para distribuir as jogadas. Seja na ala ou como volante, Dani segue sendo o construtor mais importante de Hernan Crespo.
Volantes, meia e atacantes:
Como já dito anteriormente, os volantes utilizados neste esquema vão ter a função de além da proteção da cabeça de área (que se torna uma tarefa menos custosa pelo esquema com três zagueiros), empurrar o time adversário para o campo de defesa e construir todas as jogadas, trabalhando bola com os atacantes, zagueiros e alas. Isso libera a movimentação do meia e dos atacantes. A dupla de Luciano, trabalhará como um 9 “fixo”, mais próximo da área e sem obrigações de recomposição. Enquanto isso, Luciano jogando de segundo atacante tem total liberdade de deslocamento, podendo cair para os cantos e se aproximar tanto do meia quanto do “9”, entretanto, sem ter que armar as jogadas, como este fazia no último trabalho. Esta função agora fica com o meia. Sem obrigações de marcar no corredor, o escolhido para a função de “camisa 10” tem livre deslocamento e é utilizado como um enganche, caindo pelas beiradas quando necessário, se aproximando dos volantes e zagueiros para receber bola dos atacantes.
Marcação:
O São Paulo marca no campo do adversário. A ideia de Crespo marcando pressão é sufocar o adversário e impossibilitá-lo de construir jogadas a partir de seu campo defensivo. Esta é a base defensiva do sistema defensivo do São Paulo nesta temporada, forçar o adversário não somente ao erro, mas também a rifar a bola. Ao postar os zagueiros na linha de meio campo, estes podem recuperar a bola e trabalhar uma nova jogada desde o começo.
Além disso, em seu campo de defesa, o tricolor marca de forma cautelosa e sem correr muitos riscos. Com três zagueiros à disposição e um volante disponível para proteger a cabeça de área, o zagueiro central geralmente sai para o bote, enquanto os dois zagueiros de beirada fecham atrás, contando com a aproximação dos alas. Seja com reservas ou titulares, o plano de marcação do São Paulo é o mesmo. Tanto na pressão ou em seu campo de defesa.
O Sistema de jogo implementado por Hernan Crespo é um sistema unitário, onde para funcionar, todos os sistemas precisam operar em conjunto. Não existe um bloco unitário, ou a defesa separada de ataque. Cada parte depende do bom funcionamento do esquema. O avanço dos zagueiros de beirada, deslocamento dos volantes empurrando o time adversário, livre deslocamento dos meias, amplitude dos alas e dupla de ataque potencializada. O SPFC funciona como uma orquestra. Violinistas, flautistas, percussionistas… todos regidos pelo maestro Hernán Crespo. Que a fase boa continue.
Saudações TRIcolores,
Murilo Zanardi
@murilozanardi