Em entrevista ao SPFC 24 HORAS, o técnico Orlando Ribeiro falou sobre seu trabalho no São Paulo, os jogadores que formou, sua carreira, entre outros assuntos.
Orlando Ribeiro trabalhou mais de 11 anos com categorias de base. Passou por todas as categorias do São Paulo, além de passagem em outros clubes como Portuguesa e Osasco. Se diz preparado para o próximo desafio, que é o futebol profissional e que aproveitou todas as oportunidades que teve, mas ao mesmo tempo não descarta trabalhar nas categorias de base de outro clube.
Perguntado sobre o grande interesse de clubes da Europa nos jogadores ainda nas categorias de base, Orlando falou que isso se deve qualidade dos jogadores brasileiros, mas também do trabalho dos clubes formadores.
Ressaltou ainda que o São Paulo é uma equipe que faz um excelente trabalho na base, mas que o ideal seria os jogadores passarem pelo time profissional primeiro. “Não é o ideal. Eu como um treinador que trabalhou mais de 11 anos na base, gostaria sempre que os atletas primeiro passassem pelas equipes profissionais” e elogiou o trabalho do São Paulo como clube formador: “Além da qualidade dos atletas brasileiros, tem a qualidade do trabalho feito no CFA”, completou, referindo-se ao Centro de Formação de Atletas de Cotia.
Quanto aos jogadores que treinou e hoje integram a equipe profissional do São Paulo, o ex-treinador afirmou que os garotos “tem uma qualidade alta, são garotos de excelência mesmo. Eu fico muito contente de ter participado da formação deles e fico muito contente deles terem participado da minha formação também”. Além de relatar orgulho sobre os jogadores que estão fora do país ou em outras equipes.
Orlando elogiou técnicos com os quais já trabalhou, dentre eles Dorival Junior, que segundo ele, estava sempre atento ao trabalho feito na base, e Fernando Diniz, que costumava treinar com a equipe profissional em Cotia, e sempre conversar com a equipe técnica da base, além de Rogério Ceni e Raí, que estavam sempre de olho no trabalho feito no CFA. Desejou também sorte a Alex, seu sucessor: “Excelente profissional excelente pessoa”, pontuou.
Sobre seu desligamento do São Paulo, Orlando disse que foi uma decisão da nova diretoria em trocar o comando e sobre o seu trabalho, sente que cumpriu seu dever e aproveitou todas as oportunidades e está pronto para o próximo passo da carreira: treinar uma equipe profissional. “Estou e fiquei tranquilo. Minha carreira não para por aí, todo o aprendizado que tive dentro do São Paulo, dentro do CFA, está marcado na minha carreira, vai contar como minha experiência, como vivencia. (…) E também procurando oportunidade do profissional, que é a nossa meta, desde que eu parei de jogar futebol, a meta é trabalhar com o profissional. ”
Confira a entrevista na íntegra:
SPFC24HORAS: Existe hoje, um grande interesse dos clubes a Europa nos jogadores ainda nas categorias de base? Isso se deve graças ao excelente trabalho do São Paulo como clube formador?
Orlando Ribeiro: Sim, vejo ainda um grande interesse das equipes da Europa, principalmente, e até mesmo do leste europeu, que tem um grande interesse nos meninos da categoria de base. Na minha opinião, isso deve ainda a qualidade que o brasileiro tem e eles sabem que a todo momento surge algum menino de muita qualidade. Então eles estão sempre atentos as categorias de base de todas as equipes do Brasil. E completando, o São Paulo realmente é uma das equipes do Brasil que faz um excelente trabalho na base. Unindo essas duas coisas, a gente sabe que além da qualidade dos atletas brasileiros tem a qualidade do trabalho feito no CFA.
SPFC24HORAS: O que você acha dos clubes venderem precocemente jogadores da base, que em alguns casos nem chegam ao profissional?
Orlando Ribeiro: Não é o ideal. Eu como um treinador que trabalhou mais de 11 anos na base, eu gostaria sempre que os atletas primeiro passassem pelas equipes profissionais que eles são preparados, no caso o São Paulo, ou a Portuguesa e o Osasco que trabalhei no sub-17. Então para nós profissionais, na minha visão, o ideal é que eles fossem formados e chegassem ao profissional, mas a gente sabe que alguns deles antes de chegar no profissional vão para a Europa, ás vezes Estados Unidos e alguns outros mercados ou outras equipes dentro do Brasil mesmo.
Mas isso, principalmente em termos de Europa, é difícil de controlar, porque geralmente são propostas muito altas, e a condição financeira dos clubes não favorece que eles vão dispensar uma proposta desse time. Então os clubes têm algumas situações, alguns momentos que necessitam dessa venda para arcar com algumas despesas até mesmo do profissional.
SPFC24HORAS: Para você, qual foi seu melhor momento no SPFC?
Orlando Ribeiro: Meu melhor momento no São Paulo estava sendo agora. Era um momento de amadurecimento, entramos como avaliador, passei por todas as categorias, muita vivencia com os meninos, alguns em mais de uma categoria, tinha um conhecimento muito bom deles, do desenvolvimento deles, então meu melhor momento no São Paulo era esse momento que eu estava vivendo agora, até mesmo de amadurecimento, pensando numa transição para o profissional, assim como os meninos tiveram. Nós também pensávamos em ter uma transição para o profissional então eu me sinto bem capaz e pronto para a próxima oportunidade que seria o profissional. Todas as outras eu acredito que eu aproveitei bem.
SPFC24HORAS: Em mais de 10 anos no São Paulo, como era a sua relação com os treinadores da equipe profissional na transição? Teve algum que conversa mais com você sobre as peças?
Orlando Ribeiro: O Dorival [Junior] conversava bastante com a gente, até fez uma ou outra reunião com a gente lá em Cotia mesmo, estava bem atento aos meninos, sempre perguntando. Ás vezes íamos treinar na Barra Funda, com o Dorival, com o time profissional, e em mais de uma oportunidade, mesmo quando não estava mais no São Paulo, ele elogiou o trabalho que era feito na base, e isso pra nós foi muito marcante, foi muito legal da parte dele. O Rogério teve também alguns momentos no CT, até mesmo antes dele assumir, ele passou, viu os treinamentos, viu a metodologia, deu a opinião, que foi importante para nós.
Tivemos também agora o Diniz, que esteve também várias vezes no CT, com o profissional, fazendo inter-temporada e sempre que estava lá em Cotia conversava com a gente, algumas vezes pediu para que fossemos treinar lá na Barra Funda, então tinha uma ligação boa com esses treinadores que realmente conversavam, perguntavam, além do Raí, que sempre que tinha alguma dúvida dos meninos, ligava até diretamente pra gente, para conversar. Eu acredito que a minha relação era muito boa com os treinadores do profissional.
SPFC24HORAS: Como você se sente vendo o time profissional com vários jogadores que você treinou? Tem algum que você destacaria mais?
Orlando Ribeiro: Eu não gostaria de destacar um ou outro. Todos têm uma qualidade alta, são garotos de excelência mesmo. Eu fico muito contente de ter participado da formação deles e fico muito contente deles terem participado da minha formação também. Eu acredito que foram 11 anos, de evolução de aprendizado, e de momentos muito bons na maioria das vezes momentos bons. Então eu fico muito feliz quando vejo a escalação, quando eles entendem que um treinador que está no profissional tem um modelo, tem um sistema de jogo e eles conseguem entender, quando chega um outro treinador e eles também, na minha conta do recado, e eu só posso me sentir feliz.
Feliz de ter participado, junto com todos os funcionários, não só os profissionais da área técnica, mas todos os funcionários do CFA, que nós somos responsáveis por essa qualidade que os meninos apresentam, não só no São Paulo, alguns que estão até fora do São Paulo ou do país. Então, é motivo de orgulho. Isso é muito bom.
SPFC24HORAS: Como você vê a escolha do Alex como novo treinador do sub-20?
Orlando Ribeiro: Eu não posso falar do Alex, eu posso falar do que eu vejo, porque eu não o conheço pessoalmente, mas eu posso falar pelo o que as pessoas me falam, que é uma excelente pessoa. Via os jogos pela televisão, via muita qualidade como atleta, como comentarista também, se destacava muito bem, bem pontual, uma pessoa do bem. E eu acredito que ele vá sim conseguir ter um bom desempenho no São Paulo. A gente torce pra que dê tudo certo porque é um excelente profissional e uma excelente pessoa.
SPFC24HORAS: Pra se tornar um grande técnico, é imprescindível treinar categorias de base, na sua opinião?
Orlando Ribeiro: Eu não acho que é imprescindível ter trabalhado na base para chegar no profissional, mas é um passo mais firme, você consegue dar um passo mais firme quando chega no profissional, você conhece grande parte das esferas de um clube, então isso vai te ajudar, quando você receber um menino que veio da base, quando você chegar em um clube com muitos meninos da base, isso ajuda bastante.
Na minha opinião, a ideia que eu tinha realmente é que mais a frente, quando eu parei em 2003, é que o futuro das equipes brasileiras – principalmente – estava na base e que algum momento iria precisar recorrer à base por isso eu achei melhor começar por ali pra conhecer todas as engrenagens de uma equipe de futebol. É logico que eu não contava com essa questão de pandemia e uma situação financeira iria se agravar muito no momento que nós estamos, mas eu já tinha uma noção de que a base, pra algumas equipes, poderia ser até mesmo uma solução.
Nós estamos vendo que grande parte das equipes do Brasil estão recorrendo à base. Então um treinador que também conhece alguma situação da base, passou por algumas equipes da base, ele vai ter um pouco mais de experiência no caso. Acredito que não é imprescindível, mas é muito bom que ele tenha essa experiência pra ajudar as equipes no profissional. Mas a minha carreira não acaba por aqui. Tenho como ideia partir do momento onde eu estou parando, ou seja, se aparecer uma oportunidade de uma equipe estruturada tanto quanto do São Paulo e também procurando oportunidade do profissional, que é a nossa meta, desde que eu parei de jogar futebol, a meta é trabalhar com o profissional, mas eu imaginei passar por todas essas situações que eu passei. Então, de momento, é realmente da onde eu parar, pra onde eu quero seguir. Essa é a minha ideia.
SPFC24HORAS: Quais as principais diferenças entre treinar o sub-17 e o sub-20?
Orlando Ribeiro: A diferença do sub-17 pro sub-20 é na parte física do garoto, na parte de maturação. O jogo do 17 é um jogo mais técnico, pelo menos nas categorias de base do São Paulo, é um jogo onde a gente tenta realmente, na metodologia, implementar exercícios que vá fazer com que ele pense bastante pra jogar, que ele tenha a solução de jogo. Então na realidade, no 17, ele vai tentar resolver as variáveis que acontecem no jogo. E ai quando chega no 20, se torna um jogo mais físico, porque tem equipes com garotos que já trabalharam com o profissional, retornam pra jogar no 20. São 3 anos de estágio no sub-20, no 17 são no máximo 2.
E isso está bem no auge da maturação do menino, no auge dele começar a ganhar força, por em pratica toda a vivencia que ele teve no sub15 e no 17. Então a mudança do 20 se torna mais físico, alguns já vão ter alguma transição no profissional, então ele vai ter que se defender melhor, porque os atletas do profissional são muito mais experientes, muito mais fortes.
Então, praticamente, a diferença se torna física. Por isso que a ideia é no 17 você dar a vivência pro menino resolver a situação do jogo, lógico, juntamente com técnico, tática, individual até. Pra quando chegar no sub-20 ele faça um jogo de muita qualidade, de muita inteligência, e que vai ser muito mais vistoso pro torcedor, e vai se tornar um menino também de um patamar alto. Seu passe vai valer mais, na hora dele renovar um contrato vai valer mais, então tem essa diferença ai do 17 pro 20.
SPFC24HORAS: Como foi a conversa e o seu sentimento no desligamento do São Paulo?
Orlando Ribeiro: O Biazotto me passou que era a ideia da diretoria mudar o comando do sub-20, em questão de sentimento, em questão do que eu penso hoje depois de 2 meses, é que em relação ao São Paulo eu estou com dever cumprido, em termos de categorias de base todas as oportunidades que me foram oferecidas eu procurei aproveitar da melhor maneira possível e tenho certeza hoje que consegui. Só ver a grande quantidade de garotos no profissional, formados, que nós participamos da formação deles.
A grande quantidade de garotos que foram vendidos que nós participamos da formação. Por isso nessa questão estou e fiquei tranquilo. Minha carreira não para por aí, todo o aprendizado que tive dentro do São Paulo, dentro do CFA, está marcado na minha carreira, vai contar como minha experiência, como vivencia. E como falei, na minha próxima oportunidade, seja numa equipe estruturada, sub-20, seja no profissional, que a gente tiver a oportunidade, eu tenho certeza que a gente vai aproveitar bem. Foram 11 anos de muita dedicação, de muito trabalho, de muita experiência, de ajudar outras pessoas, e a gente tem que pôr em pratica, continuar, a vida não para. Eu tenho certeza que na próxima oportunidade eu vou estar muito mais preparado que quando entrei no São Paulo. Acredito que foi uma situação boa para todo mundo.
Por Beatriz Pestana com a colaboração de Fábio Martins