Opinião: O que poderia ser união virou medo

Por: Julia Robita (@juliarobita)

Foto: (Divulgação/ saopaulofc)

 

O jogo entre São Paulo e Palmeiras pela semifinal da Copinha 2022 já tinha tudo para ser marcante. Isso por toda rivalidade já comum em clássicos, pela ótima campanha dos times até ali e especialmente pelos bons jogadores dos dois lados, que geram muita expectativa das torcidas. Infelizmente, tudo isso ficou de lado e o que será lembrado quando mencionarmos, é um episódio que não foi protagonizado pelos atletas. 

A partida, com torcida única são-paulina, estava nos minutos finais, quando algumas pessoas vindas da arquibancada invadiram o gramado. A intenção era resolver as coisas com violência e agredir os jogadores do adversário. Isso por si só já seria lamentável e absurdo, mas ainda teria um agravante: uma faca foi encontrada jogada no gramado. O pior não aconteceu porque os invasores foram contidos por jogadores do São Paulo, que num ato de coragem os afastaram para tentar acabar com a confusão e também defender os companheiros de profissão do outro time. 

O comportamento que afasta o torcedor dos estádios

Muitas perguntas surgem, mas a principal delas é: como permitiram que alguém portando uma faca entrasse nas dependências do estádio? A resposta surgirá nos próximos dias, mas o que fica dessa situação, além da vergonha, é o medo. O que vai contra tudo o que o espetáculo do esporte tem de melhor. O futebol para o torcedor é parte importante da vida, move emoções, proporciona laços, vínculos e, mais do que tudo, apresenta um tipo de amor genuíno e quase inexplicável pelo seu time do coração.

Um sentimento que aumenta a cada ida ao estádio, propicia memórias e experiências únicas e que só cresce, mesmo nas dificuldades. No fim das contas, muito além das disputas, o futebol é amor e qualquer outro sentimento bom. Porém, episódios como os da invasão, só servem para afastar os torcedores reais do estádio, aqueles que vão torcer e apoiar. Amedrontar ainda mais os que já têm receio de ir por alguns casos de violência nesse ambiente e desestimular quem gostaria de frequentar mais vezes. No caso do torcedor são-paulino, a história é ainda mais complexa. 

O episódio “trikas”

Nos últimos dias, várias brigas entre torcedores comuns e torcidas organizadas tomaram conta das redes sociais. A relação, que já não é das mais amistosas, teve mais problemas quando o apelido “trikas” – uma derivação simples e inofensiva de tricolor- foi adotado por alguns torcedores, o que irritou as organizadas mais influentes e torcedores menos tolerantes. Como quase tudo na internet, quanto mais sabem que irrita, mais vão usar. Foi o que aconteceu nesse caso e o termo ganhou muitos adeptos.

O que era pra continuar numa simples brincadeira de rede social se tornou uma troca perigosa de declarações que passou completamente do ponto. Acusações, supostas ameaças, medo e um clima hostil tomaram conta da torcida são-paulina. Esse é apenas um dos exemplos de acontecimentos nesse sentido, que por vezes saem do ambiente das redes sociais e chegam também nas arquibancadas. Certo é que tudo isso seria evitado se as pessoas respeitassem as individualidades umas das outras. 

Antes de mais nada, respeito

Ninguém pode impor suas vontades, muito menos se utilizando de artifícios totalmente inadequados – e que às vezes passam longe de um bom diálogo – para tal. As pessoas são livres para falar, vestir e frequentar o que quiserem e isso jamais deveria ser pautado por ninguém. Agir de forma autoritária e rude não é a melhor forma de se fazer ouvido, respeitado e nem de mudar a concepção de outras pessoas sobre nenhum assunto. 

O São Paulo, apesar de seu ambiente político fechado e pouco participativo (e que ficará ainda menos participativo após as mudanças do estatuto), é de todos os torcedores. Ninguém é menos apaixonado por não seguir ideais antiquados. Para conseguir a harmonia e união entre todas as partes é preciso, antes de tentar mudar o outro, analisar a si próprio.

A única reivindicação realmente necessária deveria ser feita aos que comandam o clube, para que fizessem o melhor para a instituição. Mas na escala de prioridades de quem quer impor suas vontades a todo custo, isso por vezes parece ficar em segundo plano e ser menos importante que qualquer briga tosca de internet.

Por hoje é isso, pessoal.

Até a próxima!

Julia Robita

24, estudante de jornalismo, são-paulina e meio aleatória. Gosto de falar sobre esportes, música e o que mais tiver

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