Ao processar São Paulo, Maicon pode levar o Brasil inteiro à falência

(Preâmbulo: sim, sei muito bem que esse assunto já “passou do tempo”, pra dizer no popular. Os mais moderninhos diriam que “perdeu o timing”. Mas quero deixar claro que essa demora tem uma explicação. Chama-se estudo. Antes de falar de um caso que ganhou as manchetes quase que instantaneamente, eu queria me certificar que não estaria falando besteira alguma. E é claro que fatos novos chegam a todo segundo, é claro que eu também posso errar mesmo com tudo que li a respeito. Mas, agora, me sinto preparado pra falar algo a respeito. E, também, pra falar a frase forte dessa manchete)

No começo de maio, mais precisamente no dia 07, Maicon comemorou uma vitória na Justiça contra o São Paulo. Chama atenção, porém, a ação ganha. O atual volante do Grêmio conseguiu o direito de ganhar um adicional por jogar fora do horário comercial – à noite, aos finais de semana e feriados.

É ridículo. o créme de la créme do futebol, os jogos, acontecem exatamente nesses horários. Em todo e qualquer lugar do mundo, em qualquer período histórico que você quiser analisar. Por um motivo óbvio: ao contrário de jogadores de futebol, como o próprio Maicon, o grosso das pessoas obedecem um horário comercial. Jogadores de futebol, porém, são uma classe à parte no mercado de trabalho.

Sim, à parte. Já está embutido no contrato, por lógica simples, um adicional por se atuar nesses horários. No caso de clubes como o São Paulo e jogadores como Maicon, existem todos os adicionais possíveis e elevados à enésima potência. Bem como, também, direitos por exposição de imagem, prêmios por metas alcançadas e tudo mais que você pode imaginar. Basta ver as cifras que tais atletas ganham

O leitor mais atento, porém, percebeu uma importante colocação no parágrafo acima. “Clubes como o São Paulo” e “atletas como Maicon”. Essa especificação é importantíssima. O futebol é muito além de clubes grandes, que jogam todo domingo na TV aberta. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, existem cerca de 800 times profissionais no Brasil, com 11 mil atletas federados. Sim: os times da Série A do Brasileirão equivalem a apenas 3,5% das equipes no país. E são esses os primeiros que correm riscos.

Imagine, para um clube pequeno, com paupérrimos recursos, ter que arcar com despesas extras por conta do horário de jogos. Eles, que já têm dificuldade para honrar quatro meses de salário (já que muitos deles disputam apenas os campeonatos estaduais), quebrariam.

Sem clubes menores, sem diversão para a população do interior de cada estado. Sem eles, também, a revelação de atletas é imensamente prejudicada. E isso, é claro, vai, certamente, bater nos clubes grandes.

Mas não vai bater apenas nos gigantes por conta disso. Uma série deles já estão em imensas crises financeiras. O próprio São Paulo, por sinal. O Cruzeiro, porém, talvez seja o caso mais conhecido do país. Vasco, Fluminense, Botafogo, Corinthians, Santos e Atlético-MG, porém, também têm situações delicadíssimas. Com mais gastos, muitos deles perderiam muita força no mercado – e sabe-se lá se conseguiriam se manter.

A situação, porém, não versa, apenas, sobre o mundo do futebol.

Eu, enquanto jornalista esportivo, me sinto à vontade para, depois do processo movido por Maicon, processar os veículos pelos quais me credencio para cobrir um jogo de futebol. Outros também devem pensar o mesmo. Para ficar em um grande exemplo dado por Marco Aurélio Cunha, ex-dirigente do SPFC, em Live no canal Arnaldo e Tironi, Faustão, rei dos domingos na televisão brasileira, ganharia R$ 1 bilhão em indenização.

Imagine, também, profissionais da área da Saúde pedindo indenização por plantões em horários que não são comerciais. Imagine quantos hospitais, clínicas, governos e etc não sofreriam – e, muito provavelmente, também quebrariam. Vale ressaltar que os ordenados da área estão bem acima do que é pago para boa parte da população brasileira.

Catastrofista demais? Muito pelo contrário: eu sou otimista. Escrevi tudo até agora sem citar os efeitos da pandemia do coronavírus. A crise econômica provocada pela situação, que ainda não pode ser prevista, vai causar uma imensa recessão global – que, ainda, não consegue ser contabilizada direito. Os efeitos descritos, portanto, serão potencializados a sabe-se lá qual potência.

Cabe destacar que Maicon tem todo o direito de processar o São Paulo. Se o clube atrasou salários, direitos de imagem ou qualquer ordenado que seja, o atleta tem todo o meu apoio. Ele, também, é trabalhador – como eu e como você que lê esse texto. Eu faria o mesmo, por sinal. A questão, aqui, é o motivo pelo qual o volante acionou o SPFC juridicamente. A razão é tacanha.

Pior ainda é ver que diversos jogadores aplaudiram a atitude de Maicon. Muitos deles, certamente, não andam precisando de dinheiro algum – por estarem em uma casta mais do que privilegiada na sociedade brasileira. Basta ver o quanto recebem – ou deveriam receber, mas esse é outro papo. Se a situação torna-se comum, simplesmente, não haverá mais empregadores para eles. Se eles podem jogar em outros países, você, torcedor, vai perder o seu clube, que decretará falência. O seu rival também. E, dessa maneira, o futebol vai acabar. Não só o futebol, como já dito acima.

A atitude de Maicon é completamente irresponsável. O escopo jurídico que deu ganho de causa para o atleta, certamente, não sabe de nada do contexto que envolve todo o futebol brasileiro. Seria muito mais justo dar celeridade para o processo trabalhista que o atleta já movia contra o clube. Esse, sim , com toda a razão, repito.

O egoísmo de Maicon pode levar todo o país à bancarrota em um momento tão delicado. Enquanto ele reclama do “mimimi“, que você saiba do perigo que a atitude tão asquerosa do atleta representa, também, para você.

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