Saudações, tricolores! Hoje, trago um bate papo com Kristian Orberg, candidato ao conselho deliberativo pelo Grupo Nova Força São Paulo. As eleições para o conselho deliberativo ocorrem neste sábado (28).
Sócio desde 2010, Kristian tem 39 anos, é formado em direito pela USP, administração pela Faap, optou por seguir carreira jurídica, trabalhando em renomados escritórios de advocacia. Migrou no ano de 2011 para o mercado financeiro, acumulando experiências em empresas como BTG Pactual e Xp Investimentos, onde o mesmo é sócio e responsável pela área de mercado de capitais e fundos de investimento estruturados dentro do departamento jurídico. Tem como especialização o mercado de capitais, tendo trabalhado com renegociações de dívidas empresariais e na captação de recursos.
Para quem não os conhecem, quais são as principais ideias, tanto do grupo Nova Força quanto as suas?
R: As principais ideias, tanto minhas quanto do grupo, são as questões de profissionalização efetiva do clube, em todas as suas esferas. Acreditamos que deve ter gente de mercado, o que algo que o estatuto preconiza, que devemos ter pessoas de “notório saber” nas respectivas áreas de atuação, e não vemos isso acontecer na prática. Devemos ter diretores do mercado e reconhecidos pelos trabalhos. Agora se o Natel vencer, que é quem apoiamos, teremos o MAC (Marco Aurélio Cunha), que é uma pessoa do meio e respeitada. A partir disso teríamos uma reestruturação em todos os departamentos para que as coisas sejam profissionais, não passionais como ocorrem há mesmo tempo. Particularmente me encontro no campo financeiro do projeto, com propostas de adequação do passivo e do perfil da dívida.
Vocês não acreditam que levantando a bandeira de separação do social com o futebol, não acabam se prejudicando no processo eleitoral dentro do clube?
R: A gente acha que prejudica, sim. Existe muita gente contra. A separação jurídica em dois cnpj é muito difícil de ser feita, tanto juridicamente quanto politicamente. Mas pelo menos, se houvesse uma separação administrativa de fato, já ajudaria em muita coisa. Voltando à pergunta, prejudica sim. Mas é o que a gente acredita, e não têm como do ponto de vista político pregarmos algo que não acreditamos ou mudarmos o discurso apenas por conta de uma eleição. Vamos continuar batendo nesta tecla, mesmo que isso custe nossa eleição. Queremos isso e lutaremos para conseguir. Seja agora ou em um futuro, acho inevitável que aconteça.
Hoje a imagem dos conselheiros perante a torcida, principalmente nas redes sociais, é uma imagem muito desgastada. Temos como padrão de conselheiro aquele que está todo jogo no vestiário, recebe homenagem mas ninguém sabe sua função. Como vocês pretendem mudar isso?
R: Acredito que seja um tripé de fatores. O primeiro dele é a transparência. O principal ponto dessa imagem negativa é o fato da relação dos conselheiros com o clube ser muito pouco transparente. Isso deve ser mudado urgentemente. Além disso, existe a questão do próprio nível das discussões e propostas que surgem à mídia. Você vê muitos conselheiros com propostas que são inerentes ao poder executiva. “Vou cobrir a quadra de tênis, vou destinar X milhões ao social”, isso infelizmente ganha votos dentro do clube, e é o que acaba chegando a mídia. O terceiro ponto, que acho tão relevante quanto, é o cumprimento do atual estatuto, algo que não vem acontecendo. O estatuto é descumprido a todo momento. No contrato do ônibus, por exemplo, ele já chegou ao conselho descumprindo o estatuto , que prevê que contratos acima de 5 mil mensalidades ou cujo o prazo de vigência supere o da atual diretoria deve ser enviado ao conselho, o que não aconteceu. A soma desses fatores resulta nesse desgaste de imagem. Acredito que com mais transparência, conhecimento da própria função de conselheiro e cumprimeito do estatuto, essa imagem tende a melhorar perante a torcida.
Sobre a falta de transparência, isso é algo que passa para as finanças do clube. Todos sabemos do rombo financeiro que temos, e o São Paulo parece ter meios inefetivos para tentar superar isso, e a transparência incomoda a todos. O quão viável seria a realização e disponibilização de lançamentos de balanços trimestrais? Até para que a torcida esteja mais a par do momento atravessado.
R: Sobre a divulgação de relatórios trimestrais, é possível sim, que inclusive é o que toda companhia aberta faz. Por regulamentação elas são obrigadas a fazer isso trimestralmente. O SPFC por não ter essa obrigação legal, poderia ter esse compromisso e fazer esse esforço. Inclusive, acredito que estes balanços deveriam ser auditados por alguma das “big four” (grupo das 4 maiores empresas de auditoria). Além de pouca divulgação, a qualidade deste material que é disponibilizado hoje é muito fraca e não é padronizado. Tem informações que são disponibilizadas em um mês, mas em outros não. O que prejudica muito o estudo e análise destas informações. Sobre a torcida, tenho esperança que com a divulgação correta destas informações, torço para que frases como “não torço para balanço financeiro, quero troféu” tende a desaparecer. Temos por exemplo, a situação do Botafogo, onde um dos dirigentes comprou bolas do próprio bolso e o clube está falido, o que é uma situação não tão longe do São Paulo, mas infelizmente as pessoas, por falta de divulgação não tem essa noção.
Hoje o programa de ST do São Paulo é praticamente uma doação. Não existem atrativos além de “ajudar” o clube por amor. Hoje, infelizmente o Marketing do SPFC é inoperante, não conseguem pensar em ações com o Daniel Alves. Como resolver isso?
R: Concordo 100%. Acho que são duas coisas super importantes que você abordou, que no final das contas derivam do mesmo problema: a profissionalização. Essa é a raiz do problema tanto da contratação de jogadores caros mesmo com a falta de de uma receita que permita isso (o caso do Daniel é muito simbólico para isso, contrataram esperando patrocinadores e investidores, mas não conseguiram atrair nenhum) quanto a questão do marketing. O programa de ST é de fato muito pobre, não estimula o efetivo engajamento do torcedor com o clube, e as soluções para isso são simples, mas não são tomadas pois o SPFC hoje não tem um departamento de marketing bem estruturado, que possa resgatar a identidade do torcedor com o clube. No nosso plano de gestão, essa identidade do torcedor com o clube é um dos pilares que entendemos como centrais para a atração de novas receitas.
Temos alguns casos de sucesso hoje, como a gestão de recuperação do Flamengo, que foi de um time extremamente endividado para a maior potência financeira e esportiva do país hoje. No plano de vocês, como seria a ideia de recuperação financeira?
R: São baseados em duas frentes principalmente: A renegociação de dívidas existentes e trazer novas receitas. As dívidas do SPFC hoje são as piores possíveis. Dívidas a curto prazo com taxas de juros não divulgadas, entendemos que estes contratos devem ser renegociados, e novas fontes de financiamentos devem ser buscadas (a longo prazo), e existem mecanismos para realizar isso hoje. Tudo isso passa pela profissionalização. Com um diretor financeiro experiente, acostumado a passar por este tipo de situação, isso tende a ser mais provável. A austeridade financeira também é foco do nosso plano. Se não tiver austeridade, o SPFC nao chega daqui a 10 anos, não sei nem se chega daqui a 2, quem dirá 10. No primeiro momento, propomos apertar bastante o cinto, cortar muita coisa, saber que serão momentos complicados esportivamente falando, mas dentro do possível tentar vencer sem fazer loucuras. Parar de contratar apostas por um valor elevado, e principalmente parar com a insistência neste erro. Pior do que não ter ganhado nada, o pior desta gestão foi praticamente inviabilizar a próxima gestão de ganhar algo. Os erros financeiros foram enormes e inúmeros. Trazer jogadores machucados, apostas sem fundamentos são alguns deles. Hoje, temos que utilizar Cotia para a formação de jogadores para compor elenco. Um ou outro virá fora de série, mas a base pode vir de lá. Contratações devem ser pontuais e não caras.
Falando em Cotia, hoje, querendo ou não a base virou um alívio financeiro para o clube. Revela um jogador, ele se destaca e vendemos por um preço que não tem como não aceitar a oferta. O que seria possível fazer para segurar um pouco mais nossas promessas?
R: Do ponto de vista financeiro, a única forma de não abrir mão das promessas de cotia hoje, é pela renegociação das dívidas ou por um novo financiamento, passando o passivo de curto para longo prazo. Hoje, se os bancos credores do São Paulo fecharem as torneiras, o clube quebra. Então eu enxergo a renegociação do passivo para longo prazo. O SPFC não tem outra fonte além dos credores já existentes e a venda de jogadores da base. O marketing é inoperante, de 2009 até 2019 teve um aumento de 9 milhões na receita. O que cresceu mesmo foi cota de televisão e venda de jogadores, mas da televisão não se pode exigir mais do que eles estão dispostos a pagar. As fontes de receita hoje são pequenas, então hoje, ou apelamos pra cotia ou temos de renegociar tudo.
Para você, o Leco foi o pior presidente da história do clube?
R: Olha, depende um pouco. Do ponto de vista financeiro, não há dúvidas. Foi trágico, as receitas do clube desde 2017 até 2019 vem caindo vertiginosamente ano a ano, enquanto as despesas aumentando muito. De 2018 para 2019 subiu entre 31 e 30%, nada justifica esse aumento, principalmente durante uma queda de receitas. Isso traz um problema enorme para o próximo que assumir essa cadeira. Do ponto de vista moral, acredito que o Aidar foi o pior, por tudo que já sabemos e foi divulgado. Mas na minha visão, tudo começou a piorar no final do terceiro mandato do Juvenal. Ali a questão política do clube foi prejudicada pelas manobras para garantir o terceiro mandato. Para mim esses 3 acontecimentos marcaram muito negativamente o clube.
Para conhecer mais sobre o grupo Nova Força, e também sobre o próprio Kristian e suas ideias, acessem o link abaixo para encontrar o plano de gestão do grupo
Murilo Zanardi
@murilozanardi