Declarações fortes de Formiga escancara o descaso com o futebol feminino

Recentemente a atleta Formiga, que até o final de 2022 era jogadora do São Paulo, em entrevista ao UOL criticou a estrutura do clube tricolor, acabou reclamando do gramado sintético para os treinos, da academia do clube ter horário limitado para poder frequentar e de ter somente um turno para realizar fisioterapia.

“Quando voltei ao São Paulo, foi algo absurdo. Um choque de realidade muito grande. Fiquei muito triste com o que vi. A gente juntava a galera para conversar e debochavam quando eu sugeria melhorias. A estrutura que dão até hoje para o futebol feminino não é boa. Não é bacana”, disparou a atleta.

Atualmente a atleta que se encontra sem time desde dezembro de 2022, quando o contrato com o clube se encerrou, inclusive com a atleta informando que recusou uma oferta de renovação feita pela diretoria. Após a saída foi informada que era para devolver os uniformes, pelo fato de se ter uma quantidade contada para as atletas. Cada atleta tinha direito a duas camisas de jogo que deveriam ser devolvidas quando a atleta deixasse o clube.

Formiga se despede do São Paulo. Foto: Reprodução Internet

 

“Ouvi que, se eu não devolvesse, descontariam do meu salário. Eu disse: ‘, Pois, meu filho, desconte! Não vou devolver’. O que é isso? Passei o ano todo com essa roupa. Daí a [outra] menina vai chegar e vai ter que cheirar o meu sovaco? É falta de respeito comigo e com ela”, contou Formiga.

A jogadora também revelou que os materiais de treino atrasaram por vários dias. A volante até chegou a oferecer parcerias com empresas de materiais esportivos, porem foi ironizada pelo supervisor e pela comissão.

“Vi muitas meninas rompendo o ligamento do joelho por causa do gramado sintético. Não tem como você treinar a semana toda no sintético para chegar no fim de semana e jogar num campo. Tem uma diferença grande. No campo, você escorrega. É difícil de acostumar”, detalhou Formiga.

“E o clube não oferece sequer uma chuteira de society para elas treinarem. Eu sou cascuda, estou acostumada, então não me prejudicava. Mas eu via as meninas sofrendo. E não imaginava que ainda hoje tudo isso aconteceria. Estamos num momento em que não podemos dar passos para trás. Daqui para frente, tem que ser só melhoria”, afirmou.

Na parte da fisioterapia, fez acusações mais graves ainda. Na segunda passagem pelo clube, ela acabou lesionando as duas coxas e precisou realizar tratamento. Como o clube só oferecia um período de tratamento, a jogadora teve que procurar ajuda particular para assim conseguir voltar mais rápido, porém acabou ouvindo do ex-supervisor da equipe, que não era recomendado fazer fisioterapia por fora do clube.”Se só me ofereciam um período, eu ia fazer o quê? Ficar em casa dormindo? Eu queria voltar a treinar logo”, explicou.

Após a situação exposta pela Formiga, a ex-jogadora do clube Cristiane prestou solidariedade e informou que desde a sua saída em 2019 já havia criticado as estruturas do clube, porém recebeu críticas de diversas pessoas por ter apenas falado a verdade e que precisou de outra atleta falar o mesmo para que as pessoas acreditassem nela e nem se fazendo de vítima.

Em nota oficial do clube foi apresentado argumentações contra as críticas proferidas pela volante: “A estrutura do clube conta com três locais de treinamento que podem ser utilizados pela equipe durante a temporada. Complexo Social do Morumbi, CFA Laudo Natel e CT da Barra Funda. A escolha pelos treinos no Morumbi, utilizando o campo sintético, foi por votação das atletas no início da temporada, assim como neste ano”.

A equipe feminina tem duas academias à disposição das atletas, uma no clube, onde acontecem os treinos durante a semana, e outra dentro da fisioterapia do clube, local onde as atletas que necessitam fazem complemento.

O Departamento Médico da equipe feminina principal conta com duas fisioterapeutas e uma médica. As profissionais trabalham em turnos diferentes, inclusive com atividades de prevenção e ativação por três vezes na semana antes dos treinos matinais e acompanhamento de toda a atividade em campo ao longo da semana, além de trabalhos de recuperação e tratamentos de lesões no período da tarde.

Os uniformes são cedidos pela fornecedora de material esportivo para o clube, de acordo com o previsto em contrato, com troca por temporada (que acontece para todas as equipes e categorias por volta de março).”

Fábio Martins

Formado em jornalismo, ADM do SPFC 24 Horas desde 2012 e principal responsável pelo site e redes sociais desde 2014. Twitter: @fbiomartins1

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