Desde o início da temporada, a falta de poder ofensivo do São Paulo é nítida. Marcos Guilherme mais se destaca defendendo do que atacando; Nenê, por mais que se esforce, tem 36 anos; Diego Souza mal caminha em campo; Brenner ainda é muito imaturo; E o Tréllez… é o Tréllez. Era preciso se reforçar e, pensando nisso, o São Paulo oficializou na última quarta-feira (18) a contratação do meia-atacante Everton, numa negociação que envolveu R$ 15 milhões.
O cara é até bom jogador mas, analisando todo o contexto em que chegou, não foi bom negócio.
Everton não teve uma carreira sólida, constante, regular. Em alguns clubes era banco, em outros, titular absoluto. No Tigres-MEX e no Botafogo, por exemplo, sequer é lembrado. Já no Atlético/PR e no Flamengo, conseguiu o carinho e o saudosismo das torcidas.
O único ponto unânime, em que até alvinegros e rubro-negros cariocas concordam (algo bem difícil, convenhamos) é sobre sua principal característica: a velocidade. Rápido, ele sempre foi útil para quebrar defesas bem postadas, pra servir como aquela válvula de escape pelas laterais ou pra segurar a bola no ataque quando necessário.
Mas aí é que tá, ele vai completar 30 anos em dezembro.
Não é segredo pra ninguém que a partir dessa idade, os jogadores começam a perder o vigor físico. Chega a ser um tanto contraditório, paradoxal, contratar um “velocista trintão”. A situação se complica ainda mais quando avaliamos o preço. O clube comprou um jogador avaliado em R$ 3 milhões pelo quíntuplo do valor. Eu sei que foi por conta da cláusula contratual, mas o preço foi absurdo. Só pra comparar, o goleiro Jean de 22 anos, que tem toda uma carreira pela frente e um grande potencial de revenda, chegou por R$ 10 milhões.
O Eduardo Bandeira de Melo deve tá rindo até agora pela negociação que conseguiu fechar.
É preocupante o imediatismo que vem assolando o São Paulo nos últimos anos. Dificilmente são estabelecidos critérios para as contratações. Trazem os jogadores na euforia, no impulso, pra agora e somente agora. Diego Souza e Tréllez estão aí pra provar isso. O primeiro custou R$ 10 milhões e anda ficando de fora até do banco. Já o colombiano é um atacante que não sabe marcar gols (sim, isso é um paradoxo). Aqui ainda cabem menções ao Edimar, ao Bruno, ao Aderllan…
Lembrando que o problema não é o Everton, mas sim a posição em que ele atua. Por ser ala, tem a função de puxar contra-ataques, marcar lateral e se desdobrar pra recompensar a ausência do Nenê na marcação. Analisando tudo isso, Everton é um reforço paliativo, temporário. Mas e depois? Vai chegar outro cara inflacionado?
Entre tantas dúvidas, a única certeza é que, ano após ano, o clube vai perdendo sua vitoriosa característica de planejar, estudar e se organizar. O São Paulo, literalmente, está se tornando cada vez mais brasileiro.
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OBSERVAÇÕES
“Ah, mas o Nenê tem 36 anos e tá comendo a bola” – Pequeno gafanhoto, Nenê é meia de criação, camisa 10. Toda a responsabilidade dele é pensar o jogo e municiar o ataque. Nem precisa voltar pra marcar. Além disso chegou a custo zero. Foi um baita negócio.
“Porque você não falou do Valdívia?” – É o único ponta que tem condições de ser titular. Mas, como dizem por aí: “um Valdívia só não faz verão”.
“Quer dizer que você acha o Everton ruim?” – Olha, ele não chega a ser craque, mas é bom jogador. No entanto, analisando todos os ângulos da contratação, foi mal negócio.