Uma atitude tomada pelo São Paulo em 2019 está incomodando muitos torcedores: a política de precificação de ingressos adotada pelo clube. A medida foi adotada após a eliminação na fase pré-eliminatória da Copa Libertadores, pelo Talleres, ainda no mês de fevereiro. A queda precoce para o clube argentino acendeu o alerta vermelho no tricolor, falando-se não só no aspecto esportivo, mas também no financeiro.
Em 2018, o São Paulo fez uma estimativa dos valores que poderia lucrar em 2019, e se baseou nisso para iniciar o planejamento da temporada. Porém, nesse estudo foi levada em consideração a hipótese do clube chegar pelo menos nas quartas de final da Libertadores, o que passou longe de ocorrer. Com isso, se tornou impossível que essas metas sejam atingidas em dezembro, evitando o déficit. Ainda durante o Campeonato Paulista, o São Paulo adotou a política de precificação de ingressos. Esta prática consiste na realização de um estudo que leva em consideração diversos fatores para definir os valores das entradas a cada partida.
O problema é que a política praticada pelo São Paulo já apresenta uma série de incoerências e falhas, o que levanta alguns questionamentos e debates entre os torcedores que defendem a prática, e os que condenam. Ingressos com valores elevados contra adversários inferiores, setor popular apenas para sócio-torcedores, falta de controle das vendas de meia-entrada, aumento e diminuição de preço de acordo com resultados recentes, entre outras questões.
Os torcedores andam bastante divididos sobre a medida. Um dos argumentos dos defensores da precificação é o que os valores arrecadados com bilheteria contribuem para o clube adquirir reforços de qualidade e arcar com seus vencimentos mensais, o que se trata de uma inverdade.
Muitos torcedores não sabem ou não se atentam, mas quando o clube divulga no sistema de som do estádio e nas suas redes sociais a renda da partida, é anunciada a renda bruta, que nada mais é do que a arrecadação total dos bilhetes vendidos. Porém, há uma série de descontos a serem feitos para custear a realização do jogo. Então, o clube não fica com todo o valor arreacadado, e sim do montante restante após os descontos. Esse montante que fica com o clube é chamado de renda líquida. E, na maioria das vezes, a renda líquida é insuficiente para custear atletas, a não ser que o clube tenha um plantel muito barato. A realização de uma partida de futebol em um estádio do tamanho do Morumbi requer muito mais gastos do que apenas iluminação e gramado.
Jogos de grande magnitude necessitam de uma preparação que é iniciada dias antes, com muitos profissionais, empresas de manutenção, fornecedores, entre outros fatores que demandam uma custo considerável. O clube precisa cuidar bem dos jornalistas que estão no Morumbi, ainda mais em jogos internacionais. Então, precisa arcar com gastos referentes a alimentação, bem-estar, conservação das áreas de imprensa, materiais de apoio para os jornalistas, etc.
O valor que o estado arrecada com impostos não é utilizado para policiais trabalharem em estádios, ainda mais particulares, onde o correto seria o clube contratar uma empresa de segurança privada. Porém, o estado disponibiliza a segurança dos eventos, que é custeada, e o poder público repassa essa conta para a agremiação em todas as partidas.
Agentes de trânsito não deveriam cuidar do fluxo de trânsito do entorno do estádio em dias de jogos, ainda mais em horário de pico algumas vezes, e levando em conta que a maioria dos torcedores utilizam o transporte público para ver as partidas. Porém, o órgão regulador do trânsito na capital paulista disponibiliza um efetivo para o entorno do estádio mediante custo que o clube paga, pois como dito antes, ninguém paga imposto pra esse tipo de situação.
O clube precisa arrecadar durante as partidas, e por isso também gasta para produzir materiais personalizados para venda, com os copos dos jogos e algumas vezes até de atletas, como ocorreu em 2018 com Reinaldo e Nene, e neste ano com Daniel Alves. Ou seja: ao ver os borderôs das partidas nas redes sociais do clube ou no sistema de som do Morumbi, os torcedores precisam refletir bem.
Fazer um jogo de futebol não é barato, e é muito difícil que seja possível custear contratação e salário de atletas apenas com as rendas líquidas dos jogos.