O fim da era Crespo e o retorno de Ceni

(Foto: Divulgação| @SaoPauloFC)

 

Quem esperava um dia tranquilo no São Paulo Futebol Clube já percebeu seu engano logo nas primeiras horas. Os noticiários esportivos foram tomados por declarações do empresário de Martín Benítez, que alegava certa insatisfação com a não utilização de seu atleta pelo técnico Hernán Crespo e colocava em dúvida a permanência do meia argentino na equipe ao fim da temporada. Algo similar ao que acontecera com Orejuela. Isso, por si só, já seria motivo para um dia agitado, mas era apenas o começo.

O caso Benítez

Os debates sobre o empresário de Benítez estar ou não com a razão foram muitos. Algumas pessoas concordavam com as alegações e acreditavam que o meia mereceria mais chances para mostrar seu futebol. Outros – esse é o meu caso – entendiam como inaceitável o empresário de um jogador vir a público tratar um assunto, que deveria ser resolvido internamente, e tentar conseguir a titularidade de seu atleta por pressão popular. Benítez é bom, mas não esteve disponível nos momentos mais importantes da temporada por problemas físicos – que o agente diz terem sido superados há muito tempo.

O fato de empresários se acharem no direito de reivindicar a titularidade de seus atletas recorrendo à imprensa para tal, expôs mais uma vez a bagunça que o ambiente da instituição se tornou na última década. Qualquer um parece se sentir confortável ao colocar suas vontades acima das do clube. O São Paulo se perdeu. Essa afirmação se provou verídica mais uma vez neste 13 de outubro de 2021. 

Não bastasse a confusão causada pela manhã, a parte principal das emoções do dia ficou para a tarde. O clube veio a público, por meio de nota oficial, anunciar a saída de Hernán Crespo do comando técnico do time. A notícia bombástica pegou boa parte da torcida de surpresa. Nem mesmo os que pediam a saída do técnico esperavam que acontecesse antes da partida contra o Ceará, mas ela veio. A tão dita convicção no trabalho e as promessas de continuidade, repetidas pela diretoria nas últimas semanas, não se realizaram. 

A demissão de Hernán Crespo

A possível demissão de Crespo já aparecia nas mais diversas discussões há pelo menos duas semanas, mas o discurso da diretoria parecia alinhado pela continuidade. Parecia. Na última segunda-feira (11), Carlos Belmonte em entrevista à Rádio Energia 97, se mostrou disposto a manter o técnico:

 

“Acredito no trabalho e queremos dar continuidade. Lógico que precisamos dos resultados, porque futebol é isso, mas independente do resultado de hoje à noite, o Crespo não será demitido. Nós temos convicção no trabalho dele” disse.

 

O que faltou informar? Até quando iria o prazo de validade da convicção.

A diretoria, que passou meses se vangloriando do profissionalismo e método adotados no processo seletivo feito para a escolha de Hernán Crespo – em toda e qualquer entrevista concedida – rompe com sua palavra no momento de maior pressão que enfrenta, algo até natural dos dirigentes de futebol. A mesma diretoria que apostou todas as fichas num planejamento que priorizava a competição de menos importância do ano e que se vendeu como profissional e diferente das anteriores, mas que se mostrou igual e tão perdida e amadora quanto.

O fim de ciclo

O técnico Hernán Crespo deixa o time com uma campanha inegavelmente ruim no campeonato brasileiro e com uma passagem que já caminhava para o fim pela falta de desempenho da equipe. Mas também marcado na história do clube como um dos responsáveis por acabar com a fila de nove anos que machucava a torcida. Pode parecer pouco – e na verdade é – mas, para um clube pressionado, endividado e bagunçado, poderia ser o pontapé inicial para um novo começo. Pelo menos era isso que todos diziam, mas na prática não foi assim.

Entre erros e acertos, o técnico argentino e toda sua comissão sempre se mostraram imensamente honrados em treinar um time do tamanho do São Paulo e pareciam compreender a realidade vivida. Talvez,  por toda essa identificação criada em tão pouco tempo, seja difícil ver chegar ao fim dessa forma. A continuidade ou não do trabalho poderia e até deveria, ser motivo de discussão, mas o fim de ciclo deveria ter sido levado de forma diferente. Não foi.

Seguindo o constante desejo de comandar a narrativa e ditar o rumo das situações, a gestão foi rápida mais uma vez. Apagaram todo e qualquer resquício da passagem de Crespo pelo clube o mais rápido possível. Não apenas no sentido figurado, a famosa frase dita pelo técnico argentino “Donde no llegan las piernas llega el corazón” – e  pintada no vestiário do Morumbi em outro dos atos egocêntricos e precipitados – foi apagada. Uma situação que, apesar de simples, mostra bem o que se tornou o São Paulo dos últimos anos: um lugar em que pessoas vêm e vão, mas nada fica. Corrigindo, nada de bom.

O retorno de Rogério Ceni

Diferentemente do comunicado sobre o fim da passagem de Hernán Crespo pelo clube, o substituto não foi motivo de surpresa para ninguém. O nome escolhido para o cargo foi o velho conhecido dos são-paulinos: Rogério Ceni. Previsível, como tudo nesse clube, mas além da previsibilidade, a situação também trouxe um pouco de vergonha. O anúncio aconteceu em pouquíssimo tempo, como se só estivessem esperando as burocracias serem resolvidas.

O contrato de Ceni foi feito tão rápido assim, ou a situação já estava sendo planejada há tempos? Se já não existia convicção no trabalho de Crespo, o que se esperava era uma saída menos catastrófica e mais respeitosa para o técnico que outrora era exaltado em demasia. Não teve tempo nem de se despedir. Por que mudaram de ideia tão rápido? Muitas perguntas e nenhuma resposta, afinal, nem ao menos um pronunciamento oficial foi feito.

O que espera Ceni

Rogério Ceni teve seu primeiro contato com o elenco no palco onde conquistou quase tudo pelo clube enquanto goleiro, o Morumbi. Como treinador, teve uma passagem ruim em 2017, seja por inexperiência ou por escolher o momento errado para dar início a carreira. Seu retorno era esperado, talvez não para agora, mas todos sabiam que um dia aconteceria. Ceni volta ao São Paulo agora com títulos importantes em sua bagagem como técnico, mas tendo que tirar o time de uma situação incômoda na classificação e se resolver com a torcida que tanto o ama.

 

“Eu trabalhei no São Paulo durante anos, é um clube de massa, de presença do torcedor. Mas aqui, assim, é uma atmosfera diferente” – disse em sua apresentação pelo Flamengo.

 

Para o torcedor são-paulino, Rogério Ceni sempre foi uma figura mítica, um amor inexplicável. Algo que passava até mesmo da figura de ídolo e que tornava a sua felicidade sempre bem vista. Então, quando numa tentativa inútil de se fazer querido por quem nunca esteve nem próximo de amá-lo, não pensou nisso, feriu quem sempre o defendeu como parte da família. Mal interpretada ou não, a declaração deixou suas marcas. Como amenizar isso? Livrar o time da zona incômoda seria um bom começo.

De maneira geral, Ceni assume o São Paulo com a missão de ser o salvador da pátria da vez, aquele que vai ajudar na mais nova reconstrução do clube e elenco – já foram tantas que perdi as contas e nada mudou. Boa sorte pra ele e, que seja eterno enquanto dure.

Por hoje é isso, pessoal. Até a próxima!

@juliarobita

 

Julia Robita

24, estudante de jornalismo, são-paulina e meio aleatória. Gosto de falar sobre esportes, música e o que mais tiver

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