Episódio IV – Uma Nova Esperança

(Foto: UOL)

O São Paulo enfim tem um espírito. Na noite de segunda feira, uma série de eventos que prejudicaram o resultado do jogo, serviram no final das contas para exaltar o desempenho da equipe. Pela primeira vez sob o comando de Diniz, todos os tricolores, do roupeiro ao goleiro, do jogador ao torcedor, estiveram unidos.

Há algum tempo o técnico vem tentando implementar sua filosofia de jogo, a qual não era até então aceita, tampouco acreditada, por boa parte da torcida. E os motivos para que se desenhasse tal cenário estão muito longe de ser de inteira responsabilidade do treinador. Ou só dos jogadores. O crime que fizeram com o clube tem vários réus, e as vítimas, os seus fiéis seguidores, estavam cansadas de simplesmente desculpas.

Para a torcida era preciso mostrar trabalho, algo sólido o suficiente que aguente o peso do futuro. E de fato nos últimos meses o técnico Fernando Diniz entregou isso, uma cara, um jeito de jogar, um padrão tático definido. Mas o torcedor cansado, por fatores externos ao campo e de uma profundidade muito maior do que a bola jogada, precisava de algo a mais. E o que é melhor pra se fazer um herói do que um bom (ou mal) vilão?

Na estréia do campeonato, jogou bem. Contra o rival, pelo menos não perdeu. Na última rodada outra partida boa. Qual torcedor, que mesmo com os indícios de melhora citados acima, e contrário a filosofia do treinador, em sã consciência, esperaria que um duelo segunda-feira a noite contra os reservas do Novorizontino mudasse os rumos do clube? Nenhum, horas! Mas graças aos deuses do futebol, esse esporte guarda um dedo de imprevisibilidade, de absurdo, que nos arregala os olhos e balança o coração para que se torne infinito em 90 minutos.

Esse árbitro mal intencionado ascendeu uma raiva tão grande, tão profunda em todo mundo, que todos os espíritos tricolores se levantaram contra absolutamente todos os demônios que nos cercam há tempos.

O São Paulo Futebol Clube enfim lutou contra um adversário que não era ele mesmo. Indignados contra as injustiças cometidas com o mais frio sadismo revelado no sorriso de quem a praticava, todos, absolutamente todos os são-paulinos vestiram suas camisas e foram pra guerra. Do torcedor que pagou o ingresso caro pra ver aquele cruel espetáculo. Do técnico desacreditado que como um grande mestre mostrava, até com calma assustadora, o caminho para os seus comandados. Do jogador caro taxado de eterna promessa que corria, chutava e brigava.

Ao torcedor-ídolo-dirigente apaixonado pela instituição que como um adolescente esbravejava no Instagram. Todos, mesmo que pela raiva, mesmo que por um juiz de apenas 24 anos, mesmo que em um jogo do Paulistão segunda a noite, mesmo que contra os reservas, entenderam que pra vencer, independente do que seja, e quando seja, precisa vestir a camisa. Precisamos correr, soar, e se preciso sangrar juntos. Precisamos gritar o gol salvador juntos.

Segunda, todos fomos como Brenner, e Brenner foi como todos. Quem sabe essa é uma oportunidade, uma luz. Quem sabe…

Por Luiz Miron

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