O Brasil foi o último país não europeu a levar uma Copa do Mundo, no já distante ano de 2002 – dezoito anos atrás, capaz de muitos que leem esse texto nem tinham idade para curti-la direito ou mesmo haviam nascido – de lá para cá tivemos mais quatro Copas do Mundo, todas vencidas por seleções europeias: a pragmática Itália em 2006, a revolucionária Espanha em 2010, a planejada Alemanha em 2014 e por último a talentosa França na 2018. Abrindo o espectro de analises, nessas últimas quatro Copas só tivemos um vice-campeão sul americano (a Argentina do genial Messi em 2014) e dois quartos colocados: Uruguai em 2010 e Brasil em 2014.
E daí? Não estou nem aí para seleções! Pois bem, vamos analisar o desempenho dos clubes sul-americanos nos mundiais de clube. Analisando de 2005 para o atual ano de 2020, tivemos quinze torneios e apenas três campeões sul-americanos, sendo o último em 2012. Para piorar, ocorreram quatro finais sem a presença de times sul-americanos. Nem no quesito jogador temos abundância entre os indicados ao melhor do mundo. O último premiado foi o Kaká em 2007. E concorrendo tivemos o Neymar em 2015 que ficou em terceiro. Nossa decadência é visível e muito se explica pela desorganização de clubes e confederações. Mas também passa pelo pragmatismo dentro de campo.
Com raras exceções vemos um time que atue por aqui que encante. Que demonstre algo mais do que o pragmatismo de décadas de sepultamento do verdadeiro futebol sul-americano. E muito disso é impulsionado por torcida e jornalistas que cobram algo diferente, renovação, plasticidade no futebol jogado por seu clube e pela seleção, mas possuem pouca paciência com a derrota. Analisam resultados e não desempenho. Se o Jorge Jesus não tivesse conseguido bons resultados logo no início, rapidamente, já estaria em Portugal, demitido como fracassado. Tanto pela torcida, como pela maioria da imprensa.
Para termos um futebol plástico, imprevisível, que valorize o que tenhamos de melhor: o talento, temos que entender que a implantação não acontece da noite para o dia. Diniz, Rogério Ceni, Tiago Nunes e outros técnicos dessa escola tática, dependem de tempo para implantar. O Jorge Jesus nos deu um respiro, conseguiu vencer jogando bem. E isso elevou o sarrafo tático por aqui. Porém, nem todo mundo tem o elenco e nem a sorte que ele teve. Quatro meses não é nada. Vejo torcedores são paulinos criticando o Diniz apenas analisando resultado, não enxergam que o time evoluiu? Só se prendem ao resultado? E nem nesta questão pode-se dizer que estamos mal – uma derrota apenas e ainda debaixo de chuva e com erro de arbitragem. Logo a torcida do São Paulo que em 2009 pediu o fim do vitorioso ‘Muricybol” por causa do pragmatismo? Buscavam um resgate do futebol jogado nos tempos do Telê? Onde fomos duas vezes enfrentar os europeus no mundial e ninguém teve duvidas de quem era realmente os melhores do mundo?
Deem tempo ao Diniz e os técnicos que buscam esse resgate. Deixem o futebol sul americano, principalmente brasileiro, respirar sem aparelho. Não basta apenas querer organização dos clubes e de confederações, profissionalizar a arbitragem, adequar calendário e a correção de tantas coisas que não funciona por aqui, nada disso terá sentido se continuarmos jogando um futebol feio, pragmático, vergonhoso que apenas vislumbra um resultado e geralmente caseiro. Apenas lutamos para ser o melhor entre os ignóbeis. Precisamos deixar a reforma do futebol acontecer onde tem que acontecer: no gramado.
Alexandre Drumond