2022: o ano do quase

A sensação de quase conseguir algo é provavelmente uma das mais frustrantes que existe. Isso porque, ao mesmo tempo que o quase te leva para muito perto da conquista, torna uma eventual derrota ainda mais dolorosa. Ao longo de 2022, este sentimento esteve presente mais vezes do que o são-paulino gostaria e é o que faz com que eu o defina como “o ano do quase”. Como já diriam naquele velho ditado popular e que exemplifica um pouco do gosto que a temporada deixa para os torcedores: nadou, nadou… e morreu na praia.

2022 teve início com muita desconfiança, afinal, o ano anterior reservou ao time uma montanha-russa de emoções, que começou com o all-win para conquistar o título do Paulistão com Crespo e terminou, mais uma vez, com a briga contra o rebaixamento no Brasileirão até as últimas rodadas. O caos, a insegurança e as escolhas equivocadas de 2021 serviram como aprendizado? Parecia que sim, mas na prática, não.

Diferentemente do ano anterior, quando o Paulistão foi tratado com uma megalomania completamente fora de tom, em 2022 a competição teve o status que deveria: o primeiro – e não o único – torneio a ser disputado na temporada. O time construiu uma campanha consistente e chegou com méritos às finais contra o Palmeiras. A equipe estava a exatos dois jogos de repetir o título, mas foi aí que começou o caminho do quase.

(Foto de Alexandre Schneider/Getty Images)
(Foto de Alexandre Schneider/Getty Images)

Quase campeão estadual

Primeiro jogo no Morumbi e com apoio de mais de 60 mil torcedores. Uma vitória e atuação convincentes, apesar de um gol do rival no apagar das luzes. Ainda assim, o Tricolor levava dois gols de vantagem para administrar no jogo de volta e sagrar-se bicampeão. Mas o que se viu no Allianz Parque foi uma marcante e rápida retomada da realidade dos últimos dez anos.

O time não apenas foi envolvido pelo adversário como também não conseguiu em nenhum momento da partida superar isso. Um sonoro e humilhante revés de 4×0 e o título, que parecia próximo, não veio. Foi como se todos os erros de 2021 retornassem. Como explicar uma atuação tão apática e dispersa numa final bem encaminhada? Nem mesmo os jogadores saberiam responder.

Um dos maiores problemas em perder um título, especialmente da forma como aconteceu, está no pós. Reconquistar a confiança do torcedor não é tarefa fácil. Reconquistar a confiança em si próprio e em seus talentos, também não. Mas o calendário apertado não dá espaço para lamentações. Menos de uma semana depois, a primeira rodada da Copa Sul-Americana pela frente. Além do Paulistão, talvez o título mais possível para esse elenco.

 

Quase finalista da Copa do Brasil

A perda do título paulista foi prosseguida por algumas vitórias empolgantes – para os mais esperançosos – mas pontuais, empates em sequência no Campeonato Brasileiro e um começo seguro na fase de grupos da Sudamericana. Seria suficiente para afastar o fantasma da final do Paulistão? Parecia que sim, até voltarem os jogos com desempenho sofrível na Copa do Brasil e no Brasileirão, com resultados onde a sorte falou mais alto que a competência. A desconfiança voltou e o ponto de interrogação seguia: que São Paulo veremos no próximo jogo?

No sorteio da Copa do Brasil, como nada é fácil na vida do São Paulo, o adversário não poderia ser pior: o Palmeiras. O rival que poucos meses antes colocou um fim no sonho do bicampeonato estadual e trouxe de volta a desconfiança ao elenco. No Morumbi, 1×0 protocolar e novamente o time levando a vantagem consigo para o jogo de volta, mas dessa vez com um mês de intervalo entre os jogos. No Allianz Parque, o São Paulo sofreu o mesmo apagão visto no Paulista, mas dessa vez, conseguiu se reerguer na partida. 

Em 15 minutos de jogo, 2×0 para o Palmeiras e de volta ao são-paulino todo o receio de ver mais uma derrota vexatória. Foi então que o Clube da Fé contou com uma dose de ajuda divina e com a incompetência alviverde em penalidades. Passou para as quartas de final e trouxe de volta aquela sensação de esperança. Na sequência, América-MG e mais dois jogos nervosos, mas novo avanço de fase. Semifinais da Copa do Brasil agora contra o Flamengo, time que Rogério Ceni nunca conseguiu sequer empatar atuando como técnico.

O São Paulo, desacreditado por quase todos, surpreendeu e jogou melhor, mas lhe faltou algo que sobrava no Flamengo: poder de decisão. Não foram apenas duas derrotas para um elenco atualmente mais forte, foi a sensação de que dava para ser diferente. Uma sensação que ultrapassa os jogos da Copa do Brasil e respinga em todos os momentos decisivos da temporada. Poderia ser diferente. Deveria. Mas não foi.

Quase campeão continental

A Copa Sul-Americana talvez tenha sido o episódio que mais me doeu pessoalmente. O roteiro até a final parecia escrito e pensado, detalhe por detalhe, para reviver o melhor que eu conheço do São Paulo. A torcida e o time estavam em total sinergia. O coração batia no mesmo compasso. A sensação era que a Sulamericana, último título grande conquistado pelo clube, seria também a competição que colocaria fim a fase de desconfianças e traria a retomada do verdadeiro São Paulo Futebol Clube.

O caminho até a final em Córdoba foi agoniante. De uma fase de grupos tranquila a uma fase eliminatória repleta de nervosismo e decisões por pênaltis. O coração de cada são-paulino foi testado muitas vezes, mas a dificuldade tornava tudo ainda mais simbólico e aproximava time e torcida. Além disso, com o contexto difícil na Copa do Brasil e a colocação no Brasileirão, era a única competição que poderia trazer um título e ainda proporcionar a vaga direta para a Libertadores e um alívio financeiro ao planejamento de 2023.

Outro ponto de simbologia que a Copa Sul-Americana trazia era a possibilidade de Rogério Ceni conquistar o seu primeiro título como técnico, na mesma competição que marcou seu último título como goleiro do Tricolor. Pareciam ou não pareciam coincidências, destino ou todas essas coisas nas quais nos apegamos? Para mim parecia, mas o Independiente Del Valle não tinha nada a ver com isso.

(Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)

A quase vaga para a Libertadores 2023

Como não poderia ser diferente, em um ano onde as coisas quase acontecem, isso vai até o último minuto possível. O São Paulo estava quase conseguindo uma vaga para a pré-Libertadores – que lutou muito para não conseguir. Apesar de todas as falhas em sequência e pontos desperdiçados nas rodadas em que poderia consegui-la, a vaga parecia querer ficar com o São Paulo. Parecia, mas como tudo em 2022, também não veio.

Última rodada do Brasileiro, o São Paulo precisava de uma combinação de resultados em quatro jogos diferentes, além de vencer o seu jogo. Até os 30 minutos do segundo tempo, quase que magicamente, todos eles estavam levando o Tricolor à Libertadores. Foi então que o ano do quase mostrou mais uma vez que nada daria 100% certo para o time. O Fortaleza fez dois gols em seu jogo e merecidamente conquistou a última vaga. Mais um quase para a conta. Mais um ano disputando a Sudamericana.

Para 2023, chega de quase.

No ano do quase, a única coisa que não falhou em nenhum momento foi a torcida. Mais de um milhão de torcedores foram até o Morumbi durante 2022. Na chuva, no sol, no frio, no calor, na fase boa ou na ruim. Se alguém merecia uma felicidade completa em 2022 era o são-paulino. Infelizmente, seja para os torcedores menos críticos ou para outros mais amargurados – confesso que é o meu caso nesse momento – o que levarão do ano que se encerra é a sensação de falta. 

Faltou poder de decisão. Faltou calma. Faltou se atentar aos detalhes. Faltou o título. Faltou a vaga. Faltou ser mais São Paulo. Para 2023, que sobrem motivos para comemorar e que a gente não sinta falta nenhuma do que faltou em 2022.

Nos vemos na próxima!

Por: @juliarobita 

Julia Robita

24, estudante de jornalismo, são-paulina e meio aleatória. Gosto de falar sobre esportes, música e o que mais tiver

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