A movimentação do São Paulo nessa janela que se passou foi, sem dúvidas, uma das mais intensas dos clubes brasileiros. Isso se deve, e muito, à inexplicável escassez de títulos do clube, que segue em um jejum de quase uma década sem troféus importantes. Tendo em vista a dificuldade das passagens previstas na Copa Libertadores, que é o seu objetivo de 2019, o São Paulo, mais do que apenas disputar, almeja retomar seu status de “bicho-papão” de conquistas. E conta, para isso, com uma intensa modificação de pensamento, bastante nítida pelas atitudes tomadas pela sua diretoria.
O ano de 2004 foi bastante importante para o tricolor paulista. Após dez anos, o clube retornava à Libertadores e contava com um time muito forte e recheado de estrelas, como Kaká e Luis Fabiano. Tão logo vieram as vitórias e, com elas, uma precipitada empolgação da diretoria, que, no jogo de ida das semifinais contra o Once Caldas, estendeu uma bandeira japonesa no meio do gramado, em alusão à possível ida do clube para o Mundial. Contudo, um decepcionante placar zerado em casa e uma derrota amarga aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo em Manizales trouxeram à tona um sentimento pesado de que o clube precisava voltar a ser o gigante de outras épocas.
A partir desse marco, a diretoria se movimentou e buscou uma reformulação que mudaria totalmente a configuração do time de até então. Com uma postura agressiva, o São Paulo buscou formar um esqueleto com base no Goiás histórico de 2003, que fez um surpreendente segundo turno de Brasileirão. Assim, veio Josué, juntando-se a Danilo, Fabão e Grafite. Saíram as principais estrelas do time, tais quais o Fabuloso e Gustavo Nery, mas vieram jogadores como Mineiro e Luisão, formando um time denominado por Emerson Leão como “cascudo”. Uma alteração tática também foi primaz: o time passou, durante a Libertadores de 2005, a jogar com três zagueiros – histórica formação da sequência gloriosa do time do Morumbi. E assim se deu um período vitorioso e inesquecível do time, culminando com a última sequência de um São Paulo temido.
Após 2008, a equipe parece ter perdido a mão. Apesar de algumas ótimas campanhas nas Libertadores e na Copa Sulamericana, onde o clube foi até as semifinais em duas oportunidades naquela, além de ser campeão e também duas vezes semifinalista nesta, o São Paulo se afastou de seu brilhantismo e passou até mesmo a ser motivo de chacota por seguidas eliminações vexatórias. Uma faísca de um São Paulo temido chegou a surgir em 2014, com estrelas como Kaká, Ganso, Pato e Luis Fabiano levando o clube a um brilhante vice-campeonato brasileiro. Contudo, os bastidores conturbados após a derrubada do presidente Aidar por suspeitas de corrupção acabaram por interromper essa retomada e o clube vinha, desde então, colecionando amarguras e situações de luta contra o rebaixamento.
Após uma dessas esquecíveis campanhas, a de 2017, o São Paulo parece ter acordado e percebido que a sua essência envolve a busca pelo protagonismo. Mesmo com um planejamento contestável em 2018, onde o clube contratou e demitiu o técnico Diego Aguirre em menos de um ano de trabalho, é inegável que a diretoria, agora composta por alguns ídolos do clube, movimentou-se para que o time retorne ao seu posto de brigar por títulos importantes. Assim como em 2004, o tricolor parece ter sentido o amargo gosto de uma derrocada em um Campeonato Brasileiro que chegou a ganhar um turno, motivado, também, por um “oba-oba” (semelhante à bandeira japonesa de 2004) que pôde ser acompanhado pela maioria da torcida nos bastidores do clube, transmitido constantemente no seu canal oficial. E, após um frustrante quinto lugar com muitos empates, a diretoria volta à cena, movimentando de forma interessante o mercado de contratações.
A história não se repete da mesma forma e não há como prever o que ocorrerá com o São Paulo de 2019. O que não se pode negar é que, assim como em 2004, a diretoria percebeu que seria preciso uma atuação mais contundente na tentativa de reerguer o clube para que possa chegar como forte candidato em todas as competições que priorizar. Há de ressaltar que não existe nenhuma fórmula correta para que os títulos venham, com exemplo mesmo de 2005: houve três técnicos no ano – Leão, Milton Cruz e Paulo Autuori -, e, ainda assim, o time foi multicampeão. Porém, a movimentação da diretoria, com contratações agressivas e uma mudança de postura, dão esperança para que o São Paulo possa vislumbrar a volta de sua posição de gigante do futebol brasileiro. É preciso esperar para ver se dará certo mais uma vez. Afinal, o tricolor não tem a obrigação de ganhar títulos sempre. Mas precisa demonstrar que sempre faz de tudo para, ao menos, tentar.