A cada dia que passa, podemos perceber mais e mais o descuido do São Paulo com o futebol feminino. Desde a volta do seu projeto em 2019, o Tricolor teve no plantel duas das melhores jogadoras da história do futebol feminino: Cristiane e Formiga. E, pode parecer coincidência, mas as duas atletas saíram pela porta dos fundos e criticando fortemente o clube pelas condições que são disponibilizadas às atletas.
Cristiane chegou ao São Paulo em 2019, sendo um dos principais nomes para o clube e, apesar de ter correspondido às expectativas, muitos torcedores são-paulinos não aceitaram bem sua saída, especialmente devido às suas falas que escancaravam os problemas da categoria. A atacante criticou fortemente as condições, que deixavam a desejar, e muitos acusavam uma vitimização da atleta, já que uma de suas criticas era de que não levavam a sério e tratavam com deboche e amadorismo a modalidade dentro do clube.
Mas as críticas não pararam nos relatos de Cristiane. Agora, a meio-campista Formiga, contou em entrevista ao site UOL sobre sua saída do São Paulo e expôs também os problemas que acarretaram nisso.
Formiga confessou que desejava se aposentar no clube que a revelou e a projetou no mundo do futebol. A atleta conta que não viu diferença e evolução do futebol feminino dentro do clube nesse período. Ou seja, desde 1990 o São Paulo não busca evoluir e de fato investir na modalidade.
As reclamações de Formiga são as mesmas que podemos ver rotineiramente nas redes sociais, como a questão dos uniformes. Segundo relatos, as jogadoras do clube tinham apenas duas camisas de jogo, porém, as que saíam tinham que devolvâ-las para que outras atletas que chegassem ao clube usassem. As demais camisas eram destinadas a jogos festivos ou leiloadas.
Formiga conta também que buscou tratamento para suas lesões fora do clube, já que o São Paulo disponibilizava apenas um horário para fisioterapia. Além disso, algo que foi criticado por ambas (Cristiane e Formiga), é o problema do campo sintético e da academia antiga. As atletas treinam no social do clube, em um campo sintético, aonde nem disponibilizam chuteiras society para o treino.
Todas as críticas escancaram o descuido na categoria feminina dentro do clube, o que é uma vergonha para uma das instituições que foi pioneira no país quanto ao futebol feminino.
Uma de muitas melhorias que a torcida pede, é a aproximação dos torcedores com a modalidade, o que atualmente é muito dificultado, já que os jogos – quando tinha presença do público no CFA Laudo Natel – eram mandados em Cotia e não no Morumbi. O que é diferente de como todos os rivais fazem: o Palmeiras manda seus jogos no Allianz Parque. O Santos manda seus jogos na Vila Belmiro. O Corinthians manda seus jogos em Itaquera e na Fazendinha – que é de fácil acesso para as pessoas.
O São Paulo poderia olhar com mais carinho para a categoria, já que, a base feminina é uma das que mais revelam grandes jogadoras. Atualmente, podemos ver Dudinha, que está no elenco principal, Amaral, e a excelentíssima zagueira Lauren Leal, atualmente no Madrid. Outro exemplo disso é Yaya, a primeira jogadora da base do São Paulo que foi convocada para a seleção enquanto ainda atuava pelo clube.
O time perde algumas peças excelentes, e de qualidade, pelo não reconhecimento desses talentos e por não ter nenhuma projeção e nem metas traçadas. Olhando com mais cuidado e profissionalismo, o clube pode voltar a ser referência, como era em outras décadas. Além disso, pode tentar aproximar ainda mais essa torcida, que também é apaixonada pelo futebol feminino do São Paulo, disponibilizando um estádio de fácil acesso para os torcedores acompanharem de fato a modalidade.