Por Rafael Oliveira
Twitter: Raffa Tricolor
Escrevo com a angústia do jogo contra o Atlético MG, atual líder do campeonato. Aliás, a angústia é a marca do são paulino: de acordo com Lacan, um filósofo francês, angústia é, grosso modo, uma coisa que nos paralisa, nos deixa sem saber direito o que fazer e aí acabamos gastando energia com coisas desimportantes como ficar brigando entre si no Twitter a cada notícia sobre nosso amado tricolor.
E minha angústia tem mais causas além dos anos na fila. Refiro-me aos Três Volantes São Paulinos: Casares, Crespo e Muricy.
No ano de 94 Julio Casares, o primeiro volante, saiu do SBT para ajudar o São Paulo a convite de Jayme Franco, em uma questão referente ao Morumbi interditado por questões estruturais. De lá para cá, Casares esteve mais ou menos ligado em todas as gestões são paulinas. Contribuiu com o marketing do São Paulo durante as gestões de Marcelo Portugal Gouvêa e também no primeiro mandato de Juvenal Juvêncio. Também foi vice de Juvenal, Aidar e fez parte da gestão Leco no Conselho de Administração.
Nosso atual presidente esteve presente nos bons e não tão bons anos tricolores nos últimos 27 anos. Dele pode se dizer que está empenhado em renegociar dívidas deixadas por uma administração da qual fez parte, ainda que por pouco tempo além de andar tentado a mexer no estatuto para, assim como Juvêncio, tentar a reeleição. O torcedor que tem idade para ter saudade da TV Globinho sabe que isso não deu certo na época de Juvenal e sabe que dificilmente dará certo hoje também.
Apesar do slogan “humildade e pés no chão” pouco tem se notado de Casares no sentido de combater outros problemas do clube. Nunca abraçamos por exemplo, a bandeira dos torcedores LGBTQIA+ do clube, mesmo com todo o Brasil cantando “Bambi” para nós nos estádios. Um marqueteiro de mão cheia como é Casares, sabe que aqui reside uma mina de ouro a ser explorada, além de promover uma ação importante de conscientização para o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo. Não o faz, entretanto, e sobre as razões podemos apenas especular.
O mesmo pode ser dito sobre os produtos oficiais para os torcedores que fazem parte dos brasileiros que estão com dificuldades financeiras durante a pandemia. Gravar vídeo maneiro para rede social pedindo que façamos parte do Sócio Torcedor é, aparentemente mais fácil, do que negociar com a Adidas a venda de um moletom que não seja R$ 300.
Sobre Muricy, o segundo, e na humilde opinião deste que vos escreve, o mais importante dos volantes, a preocupação é pouca, mas intensa: sua saúde. Em 2006, treinando o nosso tricolor, teve uma arritmia cardíaca. Em 2015 teve que se afastar do clube – agora em sua segunda passagem – por causa de uma crise de diverticulite. No ano de2016 se afastou do Flamengo por causa novamente da arritmia. Na ocasião declarou a Jovem Pan: “Não tenho nada grave, mas a tendência, realmente, é que eu não volte mais a ser treinador (…) O meu problema é stress, é emocional, e eu não tenho jeito de me acalmar, de ser mais ou menos. Eu sou um cara muito intenso no que faço. Sei que outras pessoas conseguem controlar isto, mas não é o meu caso. A pior função é a de técnico. É muito duro difícil. O cara não ganha jogo, ele só perde”.
Detalhe para “o cara não ganha jogo, ele só perde”.
Minha preocupação é que nosso amado Muricy tenha que, em breve, deixar o cargo de Coordenador de Futebol exatamente por causa da pressão que sofre a cada jogo que o São Paulo perde ou empata; a cada rodada colada na zona do rebaixamento.
E tem o Crespo, o terceiro volante que escala, para um jogo contra o América-MG, atual 16º colocado, com apenas 18 gols marcados, três volantes, com medo sabe-se lá de que. Crespo que escala Pablo a Eder por, entre outras questões, razões defensivas.
É duro ver o único time brasileiro tri campeão mundial jogando com três volantes contra o América-MG, com todo respeito do mundo ao América.
Pergunto-me onde foi parar a ideia de ter um time que tenta, a todo custo, ser protagonista, propor o jogo, como Crespo tantas vezes declarou em coletivas e entrevistas. Porque não me parece que um time com três volantes e um centro avante escalado para marcação pretende propor jogo. Parece um time preocupado em não perder.
E ok, as razões sabemos. Em vinte minutos tomamos dois gols contra o Fortaleza e o riso fácil de Rigoni, autor dos dois gols, virou amargura. Acho que é por isso que nossa torcida gosta tanto do Rigoni aliás: ele sabe o que a gente vive na pele faz anos.
Então a gente meio que entende: estamos no Brasil, e toda semana tem algum “comentarista” com perfil verificado pedindo a cabeça de algum técnico para ter engajamento e relevância e, quem sabe, conseguir uma boquinha. Pedir a demissão de um técnico é também um caminho fácil para a imprensa conseguir cliques e aumentar receita publicitária. Tudo piora com Ceni disponível no mercado, porque a narrativa está pronta para os urubus de plantão: sai o estrangeiro com resultados difíceis, volta o ídolo da torcida para salvar a pátria.
Mas aqui não é Hollywood e, uma volta do Ceni só nos deixaria ainda mais próximos do rebaixamento porque, convenhamos, ele é um técnico bastante questionável por hora.
O que me preocupa com Crespo é exatamente que a falta de resultados motivados por uma temporada cheia de lesões e complicações extracampo – como o caso Daniel Alves por ex. – faça com que ele mude sua proposta de jogo que vimos, deu certo no começo do ano, e, empate após empate, o time não decole e a torcida compre a narrativa fácil de sempre. Então a pressão sobre ele se tornaria insuportável a ponto de sua demissão acontecer e, junto com ela, todo o planejamento a longo prazo que esses três volantes construíram em conjunto.
O que será de nossos três volantes eu não sei, não tenho bola de cristal, mas preocupa todas essas questões que afligem nosso amado tricolor dentro e fora do campo. Até aqui a única certeza que temos é a de que nós, os torcedores que somos a alma e a carne do São Paulo. Continuaremos juntos com o primeiro entre os grandes.