Uma visão crítica sobre as falas de Leila Pereira
Leila Pereira, presidente do Palmeiras, é conhecida por suas declarações contundentes e, em alguns casos, polêmicas. Recentemente, em meio à pré-temporada de clubes brasileiros nos Estados Unidos, ela disparou:
“Esse negócio de fazer pré-temporada no exterior é para dirigente passear. Não tem benefício para o atleta, benefício financeiro para o clube. Absolutamente nada. É para dirigente passear na Disney. Isso eu não admito aqui no Palmeiras.”
A frase possui, sim, pontos que merecem reflexão, mas também revela generalizações apressadas e uma visão limitada sobre a complexidade dessas iniciativas. Em sua crítica, Leila acerta ao apontar que, muitas vezes, os dirigentes utilizam viagens internacionais como oportunidades de lazer pessoal, um problema que deveria ser discutido com seriedade no futebol brasileiro. No entanto, sua postura ignora outros aspectos importantes dessas viagens, principalmente no contexto de clubes como o São Paulo.
De fato, deslocar toda a estrutura de um clube para fora do país pode ser dispendioso e, dependendo da organização, pouco proveitoso. Entretanto, é um erro afirmar que pré-temporadas no exterior não trazem benefícios para atletas ou para o clube como um todo. No caso específico do São Paulo, por exemplo, a participação no FC Series demonstra que há vantagens significativas que vão muito além de simples passeios.
Benefícios da pré-temporada do São Paulo nos EUA
Primeiramente, há a questão das condições climáticas. Nos últimos anos, o São Paulo enfrentou dificuldades nos treinos de pré-temporada devido às constantes chuvas em janeiro. Esse problema impacta a qualidade dos treinamentos e atrasa o planejamento técnico. Em Orlando, a previsão do tempo mais estável permite que o clube tenha um cronograma sem interrupções, favorecendo o desempenho esportivo.
Além disso, o fator de convivência merece destaque. A concentração por 13 dias em um ambiente isolado promove uma integração mais profunda entre os atletas, especialmente para os recém-chegados, como Oscar e Enzo Díaz. Esse período intensivo de convivência é visto pelos diretores como equivalente a mais de um mês de treinos no Brasil. Aqui, fica evidente um ponto negligenciado pela fala de Leila: o ganho coletivo que fortalece o grupo, tanto tecnicamente quanto emocionalmente.
Outro ponto positivo é a infraestrutura oferecida nos Estados Unidos. Enquanto a Barra Funda, sede do São Paulo, não possui estrutura adequada para um período de concentração prolongada, e Cotia não é utilizada para os profissionais, os campos e instalações americanas garantem conforto e qualidade para os atletas e comissão técnica.
Um equilíbrio entre futebol e marketing
Ademais, não se pode ignorar o impacto positivo na construção da imagem do clube no exterior. Embora Leila critique a falta de benefícios financeiros, a participação em torneios internacionais eleva o prestígio e a visibilidade da marca São Paulo no mercado global. Essa exposição pode atrair patrocínios e fortalecer a conexão com torcedores brasileiros que residem nos Estados Unidos, um público que muitas vezes se sente distante de seus times.
Por fim, há também o lado humano. A escolha pelos Estados Unidos agradou grande parte do elenco, pois muitos jogadores puderam combinar o período de treinos com momentos em família, visitando parques de Orlando e aproveitando um ambiente descontraído. Esse equilíbrio entre trabalho e lazer é saudável e pode refletir positivamente no rendimento em campo.
A visão estratégica do São Paulo
O planejamento do São Paulo com o FC Series é outro exemplo de como as pré-temporadas internacionais podem ser benéficas. Apesar de o clube ter desistido de um contrato de três anos devido a um patrocinador perdido, a ideia inicial mostra uma visão estratégica: consolidar a presença internacional do Tricolor em solo americano. Essa abordagem, se bem executada, pode trazer retornos duradouros.
Portanto, ao analisar a fala de Leila Pereira, percebe-se que ela subestima a complexidade e os benefícios que uma pré-temporada no exterior pode oferecer. Embora esteja certa em apontar o uso inadequado desses eventos por alguns dirigentes, sua declaração falha ao desconsiderar exemplos positivos como o do São Paulo, que vê na iniciativa uma oportunidade de aprimorar seu desempenho e expandir sua marca globalmente.
No fim, generalizações como essa podem ser perigosas. Clubes de futebol têm realidades e objetivos distintos, e cada direção deve analisar as decisões à luz de suas particularidades. Afinal, o sucesso de uma pré-temporada depende não apenas do destino escolhido, mas da seriedade com que a equipe planeja e executa as atividades.